Dez das 11 vítimas mortais do acidente de domingo chegaram, esta segunda-feira, às igrejas de Portalegre. Uma cidade que se vestiu de luto, e cujos habitantes continuam incrédulos e questionam vezes sem conta: "Porquê?"
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Passavam poucos muitos das 15 horas quando os primeiros carros funerários entraram na cidade. Traziam dois casais mortos no despiste do autocarro, ocorrido na manhã de domingo no IC8, na Sertã, e deixaram-nos nas igrejas do Bonfim e de Santiago.
Ao início da noite, e apesar do frio que se fazia sentir, as três igrejas encontravam-se abertas e repletas de familiares e amigos das vítimas. "O que vai ser da nossa vida?", foi a pergunta que ecoou vezes sem conta, em todos os espaços onde se cruzavam famílias enlutadas.
"Não conseguia acreditar, mas agora que os vi até parece mentira", desabafa chorosa uma mulher, enquanto se abraça a outra, acabada de chegar.
Por toda a cidade - onde foi decretado o luto municipal durante dois dias -, a tristeza é unânime. Desde manhã cedo que os olhares estão colocados no chão, e as entradas e saídas das agências funerárias são "algo de anormal". Cláudio tem óculos escuros e leva na mão uma cruzeta com uma camisa branca e uma calça preta. Na outra, um saco com um par de sapatos. Perdeu o pai, Francisco Bento, e não sabe como vai ser o futuro. Enquanto trata dos papéis do funeral, escolhe a urna e as flores, é confortado por amigos e uma familiar. E por isso resiste às lágrimas.
Os funerais de oito das 11 vítimas mortais realizam-se esta terça-feira na Sé, numa cerimónia a que presidirá o bispo da diocese de Portalegre-Castelo Branco, e que será concelebrada pelos dois padres da cidade. Os corpos serão depois sepultados lado a lado no cemitério da cidade, que já tem as covas abertas.
Esta segunda-feira, ao final da tarde, na igreja do Senhor do Bonfim, realizou-se a missa de corpo presente de Manuel e Zulmira. O casal foi cremado em Elvas, de onde era natural. À tarde, deverá realizar-se o funeral de Jerónima Félix, a mulher que morreu nos Hospitais da Universidade de Coimbra, e que residia em Assumar, Monforte.
"Somos uma família"
"Esta é uma cidade pequena, onde todos se conhecem", assume Adelaide Teixeira, justificando "a enorme tristeza" que "todos sentem". A presidente da Câmara, visivelmente "agastada" com as ocorrências dos últimos dias, reconhece que "os próximos tempos serão difíceis", mas mostra-se disponível para "ajudar a minimizar o sofrimento", através das equipas de ação social e psicólogos que o concelho dispõe.
No Rossio, junto ao jardim principal, a conversa sobre o acidente mantém-se acesa. Comentam-se as notícias dos jornais e das televisões, opina-se e lamentam-se as mortes. "Há dois dias passei lá e tenho de lá passar outra vez na quinta-feira", diz José Carlos, assumindo os medos que tem de conduzir "numa estrada que tem obras e não está lá muito boa".