Comerciantes queixam-se de que o movimento baixou e que mística do evento está a perder-se. Organização desdramatiza cenário e diz que há poucas diferenças.
Corpo do artigo
"O Cinanima de há 10, 15 anos era impressionante. Vinha gente de todo o lado. Agora, infelizmente, já não é assim", diz, num misto de tristeza e nostalgia, Carlos Ferreira, um dos proprietários do restaurante Baliza, uns dos espaços desde sempre mais frequentados durante os dias do Festival Internacional de Cinema de Animação que decorre em Espinho, até domingo, no Centro Multimeios.
O sentimento de perda de Carlos Ferreira e do irmão José Luís é experimentado nos cafés, restaurantes e até em lojas por todo o centro da cidade. Uns culpam a crise que a todos bateu à porta, inclusive dos patrocinadores, outros o facto de antigamente o festival e todo o movimento gerado em volta dele se concentrarem na zona baixa da cidade, situação que mudou há uns anos com o Cinanima a assentar arraiais no Centro Multimeios, na zona alta.
"É verdade que se vêem por aí, nas ruas, pessoas a passar e que se nota logo que estão cá por causa do Cinanima, na maioria estrangeiros, mas também é verdade que ainda não vendi nada a nenhum deles. Já foi tempo. Agora, só mesmo os cafés e os restaurantes é que podem ganhar alguma coisa e isso porque os convidados têm senhas para a alimentação dadas pela organização, ou seja, nem sequer lhes sai do bolso. É dinheiro que já cá estava, só muda de mão. Se gastam do deles, se calhar é no Porto. Chega-se lá num instantinho", fez notar Ângela Soares, funcionária de uma boutique.
Arlindo Gonçalves, empregado do restaurante Concha, situado mesmo em frente do Multimeios e também um dos mais frequentados pelo "pessoal do festival" diz que, até ali, "o movimento tem baixado gradualmente".
Carlos Ferreira explicou, ao JN, que tempos houve em que "era quem mais procurava arranjar bilhetes para as sessões do Cinanima" e também muitos os que chegavam à cidade só para ver de perto ou mesmo conviver com figuras públicas e carismáticas como Vasco Granja ou o belga Gaston Roch, que todos reconheciam por não ter um braço.
"Havia quem aqui chegasse e perguntasse onde está este ou aquele a jantar só para poder ir juntar-se a eles", recorda Zé Luís Ferreira. "É essa mística que se está a perder. O ideal era que aparecesse aí sangue novo, mas com uma verdadeira paixão pelo Cinanima. Só assim o festival poderá continuar a ter importância e a ser a imagem de marca da cidade", acrescentou Carlos Ferreira.
"Se não se fizer alguma coisa, corremos o risco de acabar com um Cinanima de trazer por casa", criticou Hélder Couto, director- -geral do Hotel Praia Golfe. "Da nossa parte, chamamos sempre a atenção do Cinanima enquanto evento cultural nas acções de promoção que fazemos, sobretudo em Espanha e no Reino Unido, mas a verdade é que são raros os casos de turistas que cá vêm de propósito para o festival. Os hóspedes que temos, que cá estão com esse objectivo são na sua esmagadora maioria convidados da organização. E isso tem de mudar, nomeadamente promovendo o evento junto dos operadores turísticos", explicou.
Segundo António Cavacas, da organização, poucas ou mesmo nenhumas diferenças nota em relação a anos anteriores no que toca ao movimento gerado pelo Cinanima. O número de convidados é basicamente o mesmo e as sessões competitivas têm estado praticamente cheias. "A única diferença que se verifica é ao nível dos patrocinadores privados, onde realmente se notou uma baixa, mas isso apenas se reflectiu no valor dos prémios e não no orçamento do festival, nem no número de filmes inscritos, que foi o maior de sempre", concluiu.