Gastroparesia provoca vómitos constantes. Hospital de S. João foi o primeiro no país a avançar com o procedimento.
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Vómitos constantes e internamentos mensais. Durante pelo menos quatro anos, foi esta a realidade de Carla Ravasqueira, de 39 anos, que sofre de gastroparesia diabética. A doença compromete o normal funcionamento do sistema digestivo. Depois de ter recebido um estimulador gástrico, a vida de Carla "mudou muito, mas para melhor". A cirurgia realizou-se pela primeira vez em Portugal no Hospital de S. João, no Porto. A equipa já repetiu o procedimento noutra doente.
"Estava constantemente a vomitar e não conseguia parar. Mesmo não tendo nada no estômago, tinha sempre a sensação de querer vomitar. Deixei de ter vida própria, não podia fazer planos, e a família estava sempre preocupada", recordou Carla, acrescentando que "quando surgiu a oportunidade de fazer a operação", ficou ansiosa.
Hoje, dois anos depois da operação, a autoestima voltou. "Posso ter uma vida normal, fazer planos e sentir-me como uma pessoa normal", desabafou a paciente, que, mesmo assim, tem de ter um cuidado redobrado no que toca à alimentação.
"Nos doentes diabéticos, o sistema nervoso está atingido ao longo de todo o sistema digestivo", esclarece o médico e cirurgião José Barbosa. O estimulador gástrico, à semelhança de um pacemaker cardíaco, "dá um impulso elétrico ao estômago e ele contrai".
cirurgia não é garantia
Esta é uma alternativa para os doentes que estejam "num estado muito avançado da gastroparesia", nota José Barbosa. Antes de ser avaliada essa opção, é preciso apostar na educação alimentar.
Se o problema persistir, segue-se para a medicação. A colocação de um estimulador gástrico é a última opção de tratamento antes de ser analisada a possibilidade de se avançar com uma cirurgia de redução ou até retirada do estômago.
Mas o médico-cirurgião alerta: "É preciso avisar os doentes que nem todos têm um bom resultado". Foi precisamente esse aviso que Carla recebeu: "O doutor disse que não poderia resolver a 100%. O máximo que podia acontecer era ficar exatamente igual. Agarrei-me à esperança".
DETALHES
Acertos
Depois de colocar o estimulador, é preciso ajustar a frequência e amplitude do impulso que o aparelho dá ao estômago. Só cinco meses depois da cirurgia é que o estimulador de Carla ficou corretamente ajustado.
Sintomas
De todos os doentes diabéticos, 20% a 30% terão gastroparesia. Desses, são muito poucos os que apresentam sintomas e chegam a precisar deste tratamento, diz o cirurgião.
Alimentação
Carla já tinha eliminado tudo o que seja de difícil digestão da sua alimentação. Aos poucos, já come frutas (sem casca) e frango, desde que "bem cozido e desfiado ao máximo".