Vontade de classificar árvore no Porto como interesse nacional esbarrou na oposição dos coproprietários do local e Instituto da Natureza não avança.
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Em janeiro de 2022, a casa aberta para admirar a centenária e frondosa magnólia na Prelada, no Porto, atraiu dezenas de pessoas ao pátio do imóvel onde sempre floriu. Passado mais de um ano, e em vias de ser classificada como de interesse nacional pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), por iniciativa do escritor Afonso Reis Cabral, cujos pais têm casa no prédio, a posição de alguns coproprietários, que querem deixar tudo como está, inviabilizou a classificação.
Afonso Reis Cabral está inconformado. Critica os coproprietários, que serão donos de várias frações e pertencerão à mesma família (dona da antiga quinta onde foi construído o edifício). "A posição da família é de alguém que não demonstra qualquer amor pela árvore, a fim de ser protegida", diz, insatisfeito. Chama a atenção que a magnólia, por estar nas traseiras do prédio e distante da via pública, fica "especialmente vulnerável". O JN não conseguiu contactar a referida família.
Petição pública
Mas, para o escritor, a decisão dos vizinhos não é a única a merecer condenação. Também a postura do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas merece comentários nada abonatórios. Segundo Afonso Reis Cabral, "a lei não obriga à concordância dos coproprietários". Adianta que, pelas informações dadas pelo próprio ICNF, a árvore "cumpre e até supera os critérios para ser classificada".
A desilusão é enorme, embora prometa não baixar os braços: "O Instituto não classifica por medo e isso não é aceitável". Reitera que "a lei não obriga à pronúncia positiva de todos os proprietários" e refere que o ICNF "por conveniência tem a prática de não classificar quando há oposição de algum [proprietário]". Conclui que este procedimento é "lamentável" e que se trata de "um caso sintomático de uma Função Pública sem sentido de missão". O JN contactou o ICNF ao fim do dia mas o organismo não conseguiu responder em tempo útil.
Sem a tomada de medidas, o escritor alerta que "o abate da árvore está em aberto" e sente ter o "dever de denunciar ". Regista que a casa aberta foi há mais de um ano e que ainda hoje recebe, pelas redes sociais, elogios à magnólia e apelos à sua proteção. Por tudo isto, afirma que "está a ser estudada a hipótese de avançar com uma petição pública para canalizar a revolta das pessoas". Afonso Reis Cabral acredita que os portuenses vão corresponder: "A cidade que festejou a árvore e se levantou em peso para a contemplar vai ser a mesma que se vai mobilizar para a proteger".