A sede do Clube Nacional de Montanhismo está no segundo piso do prédio da Mercearia do Bolhão, no Porto. O dono do edifício, também proprietário do estabelecimento que encerrou esta terça-feira, diz estar a ser "altamente prejudicado" com o valor da renda e garante: "É para ir embora". A data de saída é até outubro.
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Há duas semanas, vários avisos de liquidação total anunciavam o encerramento definitivo da Mercearia do Bolhão, na Rua Formosa, no Porto. O proprietário, Alberto Rodrigues, vai arrendar o espaço a uma cadeia espanhola para dar lugar à loja Ale-Hop. Mas ainda resta um ocupante: o Clube Nacional de Montanhismo. Esse contrato de arrendamento não vai ser renovado, garante o senhorio, afirmando que as salas no segundo piso do prédio têm de estar desocupadas no final de outubro.
Sara Duarte, sócia do clube, suspeita de que "possa haver interesse em deixar o prédio vazio" como forma de o valorizar. O dono da Mercearia já havia adiantado ao JN não excluir a possibilidade de vender o edifício.
O Clube Nacional de Montanhismo tem, há 80 anos, a sua sede naquele prédio. A renda atual é de 206 euros. Chegou a ser de 400, quando ocupava o piso inteiro (algo que já não acontece). Isto, depois de a FAPAS - Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade, ter deixado o edifício. Certo é que o acordo estabelecido entre o senhorio e o clube de montanhismo para a descida do valor foi meramente verbal. Mas Alberto Rodrigues considera que tem sido "altamente explorado" pelo clube, descrevendo o valor da renda como "miserabilista". Por isso, terão de sair até "31 de outubro".
De acordo com Sara Duarte, o aviso de não renovação refere-se, contudo, à ocupação pelo clube da sala anteriormente utilizada pela FAPAS e não ao contrato original. Até porque quando Alberto Rodrigues comprou o edifício há cerca de "25 ou 30 anos", recorda Sara, o Clube Nacional de Montanhismo e a própria mercearia já lá estavam. "Fizemos uma proposta para ficar com a sala [da FAPAS] e é esse documento, de 1995, que está a ser utilizado para pedir a não renovação do contrato", explica ao JN.
O documento original não estará, contudo, nem na posse dos inquilinos nem do senhorio.
À procura de um novo espaço
O Clube Nacional de Montanhismo está agora à procura de um novo espaço, num desafio que se adivinha difícil. "Assim que recebemos a carta do senhorio falámos com a Câmara do Porto e com várias entidades que, eventualmente, nos pudessem apoiar ou ceder algum espaço", revela Sara. Para a próxima semana está agendada uma reunião com a União de Freguesias do Centro Histórico do Porto, mas desconhece-se, para já, de que forma a Junta poderá ajudar.
"Não temos grandes exigências", reconhece Sara, admitindo que o clube gostaria de manter-se no Porto. "Atualmente temos duas salas, mas uma única, com 50 metros quadrados e uma instalação sanitária, já não seria mau. Só reunimos uma vez por semana, às sextas-feiras à noite, por isso não incomodamos muito", acrescenta. Trata-se, esclarece, apenas de "um espaço de reunião do departamento de montanhismo", onde não se juntam mais de oito pessoas.
Quanto ao valor da renda, e reconhecendo ser quase impossível encontrar uma sala a 200 euros por mês, Sara garante que o Clube Nacional de Montanhismo tem possibilidade de pagar mais.