O "sol a bater no pescado ou na carne", a existência de "um ribeiro de água no meio das bancas" sempre que chove são algumas das queixas de mais de uma dezena de comerciantes do Mercado do Bolhão, no Porto. O grupo quer participar na gestão do mercado e reativar antiga associação para dialogar com o Município.
Corpo do artigo
Regressaram ao renovado Mercado do Bolhão, no Porto, há sete meses, e planeiam fazer um relatório com todos os constrangimentos encontrados no espaço. Mais de uma dezena de comerciantes critica o "sol a bater no pescado ou na carne", a existência de "um ribeiro de água no meio das bancas" sempre que chove e até multas que ascendem aos quatro mil euros pelo não cumprimento de determinadas regras do regulamento criado para aquele espaço.
14995337
Por tudo isto, o grupo de comerciantes que esteve reunido, esta quinta-feira à noite, na Associação dos Inquilinos e Condóminos do Norte de Portugal, no Porto, quer reativar a Associação de Comércio Tradicional Bolha de Água, criada em 2008. O objetivo é dialogar com o Município e propor "um modelo de gestão do mercado" onde possam participar.
O autarca Rui Moreira diz que enquanto for presidente da Câmara, a GO Porto (empresa municipal responsável pela gestão do Bolhão), vai gerir o mercado da forma que tem gerido, sempre ouvindo as pessoas. O diálogo, nota, é "mais fácil" se os comerciantes se organizarem em associações. "É mais fácil para a câmara dialogar com associações (...) O que nós não vamos deixar é de mediar problemas que cada um tem", observou, notando que esta é "uma gestão municipal".
Quanto às críticas apontadas ao espaço, responde que "houve um largo consenso" em manter o conceito de um mercado a céu aberto.
Já sobre os relatos de multas por incuprimento do regulamento, o autarca admite não saber "se aqui ou ali possa ter havido uma mão forte demais". Ainda assim, recorda o "trabalho aturado de seleção entre os comerciantes" para "repor aquilo que era o negócio tradicional" e que tal implica a existência de "regras".
16189019
"A voz do Bolhão está esmorecida"
Para Helena Ferreira, "a voz do Bolhão está esmorecida". A comerciante, inquilina da loja 43 no exterior do mercado, diz à Lusa que assinou o contrato de arrendamento em fevereiro de 2022, mas devido às "condições deficitárias nas quais a loja foi entregue", ainda não abriu. Além disso, acrescenta Helena, "não existem pontes de diálogo", entre os comerciantes e a Câmara do Porto.
Também Ermelinda Lopes, uma das peixeiras mais antigas do Bolhão e a quem foi atribuída a banca 179, por baixo das escadas do mercado, partilhou a angústia: "Não se vende nada nos congelados. Só quem está no meio é que vende. Nós é que estamos dentro das bancas, nós é que sabemos. Estamos esquecidas nas minas". E Fernando Pinto, proprietário há mais de 30 anos do "Bolhão-a-gosto", observa que os comerciantes "nunca foram integrados neste projeto de gestão", criticando a realização de pequenas feiras gastronómicas ou de promoção de alguns produtos no mercado.
Quanto a isso, o presidente da Câmara, Rui Moreira, afirma que essas iniciativas visam dinamizar e "levar gente" ao espaço.
16145610
Também presente no encontro, o arquiteto e antigo vereador da autarquia portuense, Correia Fernandes, destacou que "não há edifício que sobreviva sem alma", e comparou o Bolhão à Fundação de Serralves e à Casa da Música para concluir "que não pode ser a empresa que constrói a gerir o equipamento".
"O arquiteto Correia Fernandes devia ter algum pudor relativamente a esta matéria porque ele foi meu vereador no primeiro mandato e tivemos não sei quanto tempo para que as coisas avançassem, até que em determinada altura tive de dizer que o mercado iria avançar", observou, dizendo compreender "que custe muito ao PS e ao arquiteto Correia Fernandes que não tenham sido eles a resolver o assunto". "A ideia defendida pelo arquiteto Correia Fernandes é a de que deveríamos criar uma empresa para gerir o Bolhão, nós temos essa empresa, é a GO Porto", acrescentou.
De acordo com a autarquia, neste momento, estão em funcionamento 76 das 79 bancas, 16 das 38 lojas e dois dos 10 restaurantes, prevendo-se a abertura de outros dois em maio.