"Cada vez que passo por aqui, sinto uma enorme tristeza e um aperto no coração, porque é uma pena isto estar desta forma". É o sentimento de Armindo Magalhães, um dos cerca de 1200 funcionários que exerceram funções nos primeiros anos de vida do Complexo Agro-Industrial do Cachão (CAICA), situado a 10 quilómetros de Mirandela, e que hoje tem pouco mais de 17 unidades empresariais e cerca de 150 postos de trabalho.
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Criado em 1964, pelas mãos do engenheiro agrónomo, Camilo Mendonça, com o apoio do Estado Novo e de António Salazar, o CAICA destinou-se essencialmente à valorização e expansão das produções agropecuárias regionais através da sua transformação industrial e consequente comercialização, não só para o mercado interno, mas principalmente para o mercado externo.
Em pouco tempo, empregou centenas de pessoas, e chegou mesmo a construir, próximo da unidade, um bairro operário com 137 casas para acolher as famílias oriundas de diversos locais da região transmontana e de outras zonas do país. "Alguns deles até saíram da função pública, pois os salários eram mais elevados e afigurava-se um trabalho promissor", relata José Moreira, outro antigo trabalhador,
A partir de 1974 deram-se as primeiras grandes convulsões na empresa, relacionadas com a revolução de Abril. O património dos grémios da Lavoura foi integrado nas cooperativas e o Estado passou a tomar conta do Complexo.
A empresa passou de cerca de 300 para 1200 assalariados, o que implicou o início das dificuldades financeiras. No entanto, Armindo Magalhães também encontra outras razões para o declínio. "O problema maior foi o engenheiro [Camilo de Mendonça] ter confiado demasiado nos gestores que não tiveram qualquer rigor e esbanjaram tudo", conta o agora comerciante do setor das carnes.
A situação foi-se agravando ao longo da década de 80, acumulando-se as dívidas na banca, e crescendo as dificuldades de fazer concorrência ao mercado aberto que se sucedeu à entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia. A situação geográfica do complexo, longe dos principais centros de consumo, e as fracas vias de comunicação da região, também não ajudaram.
Em 1992, o CAICA cessou a sua atividade, na sequência da falência decretada pelo tribunal. Os trabalhadores foram dispensados. A maior parte do património que restou do antigo complexo foi entregue às câmaras municipais de Mirandela e de Vila Flor, que formaram a Agro-Industrial do Nordeste (AIN), arrendaram as instalações do complexo a pequenos empresários que procederam à modernização dos equipamentos.
Estratégico para a região
"O abandono dos terrenos agrícolas com a entrada da PAC e o êxodo para o Litoral acabou por matar o projeto", defende Luís Pereira, um dos administradores da AIN, que ainda acredita que o complexo continua a ser estratégico para a região.
"Existem condições únicas para a instalação de empresas industriais ou de outra área de atividade e vamos tentar captar investimentos externos à região, para potenciar a criação de riqueza e postos de trabalho, tão necessários numa região cada vez mais interiorizada, mas que goza de uma posição estratégica face aos eixos viários recentemente construídos, como o IC5, o IP2 e a A4", afirma.