Cooperativa artística do Porto fundada a 2 de abril de 1963 evoca o histórico presidente, José Rodrigues, e edita mais um livro. Neste sábado é inaugurada a exposição "60 de 60", mas o programa comemorativo estende-se até outubro.
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Era ainda uma jovem instituição com 13 anos quando sofreu um grande abalo: uma bomba rebentava com o telhado e com as paredes da casa apalaçada do Passeio das Virtudes, no Porto. Mas foi apenas a estrutura física a ceder. A Cooperativa Árvore viveu nessa noite de 1976 um dos momentos mais importantes da sua existência, pois passou a ser respeitada e apoiada por todos. Agora com 60 anos, a Árvore precisa de um novo "abanão", precisa de sangue novo.
Entristecido com o ataque a um lugar de cultura, que nascera da vontade de um grupo de artistas e intelectuais, em que ele se incluía, José Rodrigues ia pela rua fora naquela madrugada de janeiro quando viu aproximar-se um carro com vidros elétricos, coisa muito exclusiva na altura. De lá de dentro, ouviu: "Toma lá cinco contos para ajudar a Árvore".
Mais tarde, o próprio escultor reconhecia que o atentado "foi o início da Árvore moderna". A Fundação Calouste Gulbenkian viria a subsidiar as obras de reconstrução e até a Câmara do Porto "passou a ver a Árvore de uma forma diferente", lembra ao JN José Emídio, presidente da direção e guardador das memórias aqui reveladas.
O responsável sublinha que o ataque à bomba foi um "momento-charneira" que acabou, também, "por redimensionar a própria cooperativa". Só que, nos dias de hoje, há outros desafios. Com pouco mais de 700 associados, cuja média de idades ultrapassa os 60 anos, a Árvore "vai ter de se repensar", diz.
Não é um ultimato. O que mais preocupa José Emídio é que "a malta nova não está a aderir em quantidade", porque os jovens têm outra forma de se organizar. E deixa a dúvida: "Não sei até que ponto o formato de uma cooperativa ou de uma associação... Não sei se a malta nova está para aí virada".
Por isso, os mais novos estão na mira da direção, que o pintor José Emídio lidera pelo segundo mandato. Para os estudantes, a quota mensal é metade (2,5 euros) e a joia de inscrição pode ser paga em prestações. Há também um prémio que lhes é destinado e as portas da cooperativa abrem-se para um sem-número de oportunidades, sem esquecer que a Árvore esteve na origem de duas instituições, completamente autónomas, ligadas ao ensino superior e ao ensino profissional.
Referindo como "fundamental" o facto de a Árvore ter conseguido equilibrar-se "do ponto de vista financeiro", o presidente acrescenta que, sem apoios estatais, é preciso encontrar soluções para que a cooperativa continue "a existir com saúde". Lembra, a propósito, os grandes eventos que a Árvore inscreveu na sua história, como as exposições de Macau e de S. Paulo (respetivamente, em 1999 e em 2003), ou o projeto "Olhar Picasso", em Portimão (2009).
Foram as inquietudes de artistas plásticos, arquitetos e escritores - habituais frequentadores das tertúlias do café Majestic - que levaram ao nascimento da Árvore, a 2 de abril de 1963. O primeiro presidente foi Henrique Alves Costa, mas José Rodrigues foi quem esteve mais tempo à frente da instituição. Outras figuras indissociáveis: José Pulido Valente, Manuel Pinto, Ângelo de Sousa, Jorge Pinheiro, Armando Alves ou Manuela Delgado.
Amândio Secca, o anterior presidente, foi muito criticado em 1989 por insistir na compra do belo edifício do século XVIII que acolhe a cooperativa desde sempre. José Emídio lembra que foi uma ideia "notável", justificando: "Com a atual pressão imobiliária, já teríamos sido corridos".
O programa comemorativo dos 60 anos vai até outubro e inclui diversas iniciativas. É de realçar a homenagem a José Rodrigues: no Passeio das Virtudes vai figurar uma réplica da peça "O guardador do sol". Outro grande momento do programa está marcado para este sábado, com a abertura da exposição "60 de 60", composta por obras de artistas que marcaram a década em que a cooperativa foi criada.
"Árvore - a sua história, o legado e o seu futuro" é o tema do ciclo de três encontros com personalidades que, de uma forma ou de outra, viram a Árvore crescer. José Pacheco Pereira, Mário Cláudio e Germano Silva são os convidados. Em paralelo, será editada a segunda parte do livro "Árvore das Virtudes", evocativo do período 2001-2023.