O director dos lares de Santo António e de S. José, em Viseu, cónego Arménio Lourenço, avisa que muitas crianças e jovens que entram nas instituições privadas de solidariedade social em situação de emergência e numa perspectiva de acolhimento provisório, ficam mais tempo internadas do que do que era suposto acontecer.
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E, mais grave do que isso, sem acompanhamento dos técnicos das comissões de Protecção de Crianças e Jovens. O também responsável pela União de IPSS de Viseu reconhece "o muito trabalho que pesa sobre as CPCJ, com alguns dos seus técnicos a terem mais de 200 processos em mãos", mas apela a uma maior articulação para que as crianças e jovens internados não se sintam "abandonados".
A dirigir duas instituições que têm actualmente a seu cargo 47 alunos, entre os 7 e os 20 anos de idade, Arménio Lourenço classifica de "descuido" a forma como algumas situações são tratadas. Revela que, em muitos casos, as crianças "só conhecem o técnico da CPCJ no dia em que são internadas".
"Tenho um jovem que entrou de emergência e já está connosco há meio ano. Nunca mais foi a casa. Está revoltado" exemplificou.
Arménio Lourenço falava, ontem, em Nelas, num encontro de reflexão e formação distrital sobre a articulação entre as CPCJ e as entidades nelas representadas.
O presidente da Comissão Nacional de Protecção das Crianças e Jovens em Risco, Armando Leandro, concorda que o internamento deve ser "provisório" e que os rapazes e raparigas devem continuar a ser acompanhados pelos técnicos. Tudo porque, reconhece, "uma criança estará sempre em perigo" enquanto não for autónoma ou integrada.
Vários parceiros, desde a Saúde à Educação passando pela Segurança Social, deram exemplo do esforço que está a ser desenvolvido para colmatar lacunas no âmbito da articulação de esforços.
A presidente da CPCJ de Viseu, Manuela Antunes, diz que as comissões estão "atoladas" de processos de abandono escolar em que 99% das crianças são de etnia cigana. "Temos de chamar as coisas pelo nome. E estudar seriamente este problema". Professora de profissão e com 150 processos na CPCJ para resolver, alertou, ainda, para a necessidade de valorizar a avaliação dos docentes.