Proprietários de restaurantes criticam fecho de Alfama na noite de Santo António e acreditam que "vai ser difícil" tirar clientes do bairro depois de terminarem as refeições.
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Nos próximos dias, a Polícia vai colocar grades e fitas em algumas entradas dos bairros de Alfama, Madragoa e Bairro Alto, em Lisboa, para que se evitem ajuntamentos na noite de Santo António. Em Alfama, donos de restaurantes criticam a medida e duvidam que a vedação afaste pessoas. "Estão a fechar-nos numa gaiola, é ridículo", critica Argentina Santos, dona do Porta de Alfama. Celestino Pancas, do estabelecimento O Arco, diz que "vai ser difícil os clientes irem embora às 22.30 horas", quando os restaurantes fecham.
No coração de Lisboa, um dia depois de conhecidas as restrições para o fim de semana de Santo António, o sentimento era de "revolta". Argentina Santos, mais conhecida por Tininha de Alfama, já não tem mesas disponíveis para as noites de sábado e domingo, e acha que não vai ser fácil conter ajuntamentos. "Acabo de servir refeições às 22.30 horas, mas não vou mandar as pessoas embora. Acho que não era necessário vedar o bairro porque os jovens não vão deixar de fazer a festa, fazem em qualquer lado".
"Quem quiser entra na mesma"
Alexandra Antão, responsável pelo restaurante São Rafael, partilha a mesma opinião. "Acho que muita gente vai arrendar casas e festejar. Por vezes chamamos a Polícia porque há festas com 20 pessoas em alojamentos locais. De que vale restringir aqui se depois se juntam na mesma?", questiona. A limitação dos bairros à entrada de pessoas, com exceção dos moradores, foi outra das medidas recebidas com surpresa. "As pessoas podem dizer que vivem aqui, como comprovam? Vai ser difícil controlar. E há muito sítio por onde entrar e sair em Alfama", observa.
António Silva, da Mercearia Popular, sente o mesmo. "Quem quiser entrar entra na mesma. Não faz sentido a colocação de grades, parece que somos criminosos. Eu vou fechar à hora que quiser", garantiu o comerciante e morador em Alfama. A Polícia Municipal andou quarta-feira pelo bairro a sensibilizar para as novas medidas, nem todas bem aceites. "Disseram-me para tirar as luzes por considerarem um chamariz, mas não tirei nem vou tirar", garante Tininha.
No restaurante O Arco, Olga São João, vendedora de manjericos há 20 anos, não deixou de comer sardinhas numa semana em que já estaria de barraca montada, não fosse a pandemia. "Estou triste por ver o bairro assim", diz a também moradora em Alfama há 72 anos, enquanto almoça.
Filomena Pancas, dona do O Arco, lamenta o cancelamento dos festejos. "O Santo António era o nosso ganha-pão e ajudava-nos a ultrapassar momentos piores do ano. As pessoas não vão cumprir porque já estão revoltadas com isto", acredita. "Vai haver um grande aperto policial, mas a vontade de sair é muita. Vamos fazer um esforço por colaborar porque as multas são muito pesadas", acrescentou Celestino Pancas.
Álvaro Figueiredo, morador, tinha um convívio marcado no seu pátio, mas já cancelou. "Nem sequer posso acender o fogareiro, era só para a minha família, é triste".