A Direção-Geral do Tesouro e Finanças e a Direção-Regional da Cultura do Norte não se entendem quanto às obras de reabilitação da igreja de S. Pedro de Rates, monumento nacional com quase 900 anos que está em avançado estado de degradação. A Câmara da Póvoa de Varzim está revoltada com a indefinição.
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A Cultura diz que a igreja está sob a alçada das Finanças. O Ministério de Fernando Medina, por seu lado, responde que é a Cultura quem tem que propôr as obras. O certo é que, enquanto os dois não se entendem, a igreja de Rates, na Póvoa de Varzim, monumento nacional desde 1910 e o mais importante exemplo do românico condal português, continua a degradar-se.
“Nós notificamos a Direção-Geral do Tesouro e Finanças (DGTF) para que nos dissesse se estão a pensar fazer alguma coisa. Hoje [ontem] recebemos uma resposta a dizer que, afinal, a responsabilidade por propôr as obras é do Ministério da Cultura. Enfim, convinha que o sr. ministro da Cultura e o sr. ministro das Finanças de vez em quando falassem, nem que seja na mesa do Conselho de Ministros, para se acertarem”, afirmou, indignado, o presidente da Câmara da Póvoa de Varzim, Aires Pereira.
A situação da igreja com quase 900 anos foi denunciada pelo JN a 6 de junho: há musgo a cobrir as paredes, arbustos no telhado, chove lá dentro, faltam várias telhas, há vitrais partidos, o pórtico principal está a desaparecer e o quadro elétrico é um “perigo iminente”.
Na altura, ao JN, a Direção-Regional da Cultura do Norte (DRCN) que, há quatro anos, esteve em Rates a fazer o levantamento das patologias, afirmou conhecer o caso, mas garantiu que a igreja está sob a alçada da Direção-Geral do Tesouro e Finanças, a quem “compete assegurar a manutenção”. Agora, aquela entidade vem dizer que a Direção-Regional da Cultura do Norte é que não propôs as obras.
Aires Pereira lamenta: “O que é certo é que a igreja continua a degradar-se e ninguém resolve o assunto”. O presidente da Câmara diz que está – “como sempre” esteve – disponível para colaborar, mas do lado da tutela ninguém ouve: “Quando nos pediram ajuda para a recuperação do aqueduto nós estivemos presentes. Assim como estamos presentes para a construção do novo hospital e, infelizmente, mais uma vez, o Ministério da Saúde faz de conta que não ouve”.
A Igreja de S. Pedro de Rates foi construída no início do século XII, em pleno período condal. Com quase 900 anos, é um dos mais importantes monumentos românicos medievais do então emergente reino de Portugal e o único exemplar português da Ordem de Cluny, cuja rede será, em breve, candidata a Património da Humanidade.
Todos os dias, a igreja é visitada por largas dezenas de peregrinos do Caminho de Santiago e, anualmente, recebe o Ciclo de Música Sacra e o concerto de abertura do Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim.