As câmaras de Gondomar e de Gaia não colocam vigilância nos areais fluviais do seu território porque não querem "pactuar com uma ilegalidade". Dizem-se de mãos atadas para impedir que as pessoas vão a banhos em zonas onde o Douro está poluído.
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O Areinho de Avintes, onde anteontem um homem morreu afogado, não é uma praia. Mário Fontemanha, vereador da Protecção Civil na Câmara de Gaia, também não quer chamar praia ao Areinho de Oliveira do Douro. José Luís Oliveira, vice-presidente da Câmara de Gondomar, só chama praia à Lomba, onde os banhos são autorizados e há vigilância. Ribeira de Abade e Zebreiros são meros "areais".
Ao JN, ambos os autarcas mostraram-se angustiados por não terem meios de desincentivar as pessoas a tomar banho no rio Douro em locais onde existe poluição susceptível de causar danos à saúde humana. E argumentam não poder colocar vigilância naqueles areais, bastante procuradas, apesar de não serem considerados zonas balneares.
"Não podemos vigiar um local onde os banhos são interditos, estaríamos a pactuar com uma ilegalidade", disse Mário Fontemanha, salvaguardando que a Autarquia faz questão de ter toda a costa "perfeitamente asseada". "As pessoas podem disfrutar da areia, têm direito de passar ali tempo, fazer um piquenique, mas têm que ter o cuidado de não ir para a água, têm que ser responsáveis", referiu. O Areinho de Oliveira do Douro é um exemplo. Ontem de manhã, uma equipa limpava o areal, cheio de recipientes para o lixo. Há chuveiros públicos, quarto de banho e cafés. Só o aviso do Ministério do Ambiente desaconselhando os banhos mal se vê, preso ao tronco de uma árvore. A poucos metros, Vítor e Isabel, do Porto, passam uns dias de férias, a acampar.
Apesar de ser proibido acampar, as suas tendas não são as únicas. Frequentam o Areinho há cinco anos, sem nunca ter visto um afogamento. Mas todos os fins-de-semana, quando a praia enche, assistem a comportamentos de risco e, por isso, defendem a vigilância. "Os acidentes acontecem pelo facilitismo", indicou Isabel.
"Não podemos fazer nada"
Em Gondomar também não se vê avisos de interdição de banhos em Ribeira de Abade, areal sujo e cheio de mato, sem quartos de banho por perto, mas mesmo assim praia de muitos banhistas de fim-de-semana. Em Zebreiros, onde o lixo acumulado junto à orla de chorões cria uma atmosfera de charme decadente, há quarto de banho público, mas os chuveiros e lavatórios foram desactivados.
A Câmara admite a intenção. "Não podemos fazer nada para melhorar a situação. Devemos desincentivar a ida das pessoas para lá. Se o sítio for arranjado, acabam por ir para a água, é como as atrair as pessoas a uma armadilha", disse o vice-presidente da Autarquia.
A falta de condições e o cartaz bem visível a informar tratar-se de zona perigosa, interdita a banhos, não refreia o gosto que um grupo de amigos do Porto. São assíduos, acampam e mergulham na água poluída. "Quem vem para o rio, nem pensa nisso", referiu Daniel, tratador de animais.