Muitos dos animais que sobreviveram a incêndio que destruiu abrigos ilegais em Santo Tirso continuam sem lar, meio ano depois.
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A comoção nacional gerada em julho, quando um incêndio na serra da Agrela, em Santo Tirso, matou pelo menos 73 animais e pôs a nu as condições insalubres de dois abrigos ilegais, onde centenas de cães e gatos viviam acumulados e negligenciados, não se saldou num lar para todos os sobreviventes: apesar dos traumas que viveram - e que indignaram o país, motivando até invasões populares a vários abrigos -, muitos animais continuam em associações e sem adotantes à vista.
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Na Midas, por exemplo, ainda moram 25 dos 32 cães acolhidos pela associação de Custóias, Matosinhos. Ou seja, apenas sete foram adotados. Sobretudo, "os mais novos", nota Joana Oliveira, da direção, que não compreende como a meiga Mondego, de dois anos e com traços de boxer, continua ali.
O interesse pelos animais resgatados do Cantinho das Quatro Patas e do Abrigo de Paredes, que estão a ser alvo de um processo-crime, "durou um mês e meio, no máximo", e, agora, "é como se a Agrela não tivesse acontecido, e eles caíram no esquecimento".
"No início, as pessoas preocupavam-se. Foi o imediato, as reportagens, o terem consciência do que aconteceu e do que eles sofreram e o "sou capaz de mover o mundo para ajudar". Depois, pensam: "OK, já fizemos a nossa parte". Só que a história continua, e muitos não morreram naquele dia e têm 10 anos pela frente, e continuam a precisar de ser socializados e tratados. Isto é como no Natal, quando toda a gente se lembra das crianças das instituições e dos sem-abrigo, e são capazes de dar a roupa do corpo. Depois, passa...", critica Joana Oliveira.
Bebés são adotados
A Associação dos Amigos dos Animais de Santo Tirso também continua a ser morada de seis dos cerca de 10 cães acolhidos. Só quatro foram adotados. "Nem 50%", conclui a presidente da ASAAST, Fátima Meinl, que constata que "as pessoas têm sempre a ideia de adotar um cão bebé". A tendência poderá explicar a taxa de sucesso da Patinhas sem Lar, cujos 22 animais recebidos - metade eram bebés - foram adotados. "Correu muito bem; as pessoas adotaram", diz Ana Paula Castro, da direção da associação de Espinho, adiantando que os cães "foram dados em dois meses, na altura do verão".
"Quando constou que tínhamos animais da Agrela, começamos a ter imensos pedidos para visitas. Acho que houve um interesse exponencial nesses cães, pela situação que foi", considera.
Na Maia, a CãoViver deu para adoção três dos cinco cães (um morreu e outro ainda não foi divulgado, por ter microchip) que recebera da Agrela, e Ana Ceriz, que dirige a associação, recorda que "nos primeiros dias houve mais interesse porque as pessoas ficaram chocadas com o que aconteceu". Nota, porém, que "Santo Tirso já ficou lá atrás". Idêntica perspetiva tem Joana Sá, da Maranimais, onde ainda estão oito dos cerca de 20 cães - os de raça foram adotados - acolhidos. Na Midas, Joana Oliveira vinca que, apesar de a associação "minimizar" o facto de os cães não terem um lar, estes "sofrem, porque estão num abrigo" e "ao ar livre", o que tem mais impacto nos seniores.