Governo abriu 1073 vagas para médicos e atribuiu apenas sete ao hospital da Guarda. A opção ignorou as carências crónicas de especialistas e incendiou o discurso político
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No ano em que a Unidade Local de Saúde (ULS) da Guarda tinha pedido a abertura de 45 vagas para tentar suprir falhas em várias especialidades médicas nos dois hospitais (Guarda e Seia), 13 centros de saúde e duas unidades de saúde familiar, o Ministério da Saúde atribuiu 10 vagas, três das quais para médicos de saúde geral e familiar.
O presidente da Câmara, agora candidato do PSD nas próximas eleições autárquicas do dia 26 de setembro, reagiu logo e, em conferência de Imprensa convocada para o efeito, resumiu a decisão do Governo "a uma ofensa e um ataque direto e despropositado à Guarda". Referiu, a título de exemplo, que apesar de anunciadas obras na Obstetrícia e Pediatria, o Governo não abriu uma única vaga para aquelas especialidades. Ao contrário dos hospitais da Covilhã, Viseu e Castelo Branco, a Radiologia, Oftalmologia, Cirurgia e Cardiologia também não foram contempladas. Em ato contínuo, a administração da ULS comunicou que, não podendo reverter o concurso, tinha sido entretanto autorizada a contratar 15 médicos de forma direta.
Coesão territorial
Com sete candidatos à Câmara da Guarda, cinco deles apoiados por forças partidárias que já têm representação na Assembleia Municipal (ver caixa), a falta de recursos humanos na saúde instalou um clima de guerrilha partidária contra o desinvestimento do Executivo central na região. O presidente da Secção Regional do Centro da ordem dos médicos sentiu necessidade de deslocar-se à Guarda para dizer que "o hospital da Guarda foi o mais prejudicado do país na atribuição de vagas para especialistas" e que " o Ministério da Saúde "está a fazer tudo para fechar o Hospital Sousa Martins". Já na semana passada o secretário de Estado Lacerda Sales anunciou a contratação de quatro médicos, fora do lote dos 15 prometidos pela ULS da Guarda.
Escalas desertas
Se ao fim de semana um doente cardíaco se deslocar ao serviço de urgências no hospital da Guarda é imediatamente transferido para Viseu ou Coimbra por falta de especialista na escala. E o mesmo acontece com os ortopedistas que não só não conseguem cobrir as necessidades diárias da urgência médico-cirúrgica, como não têm diretor de serviço.
Na falta de candidatos para concorrer ao lugar, a diretora clínica Fátima Cabral, dermatologista, foi forçada a assumir a direção da especialidade na instituição de saúde, como se viu na contingência de validar propostas de cirurgia ou tratamentos oftalmológicos, depois de, no final de 2019, o diretor de serviço se ter demitido da direção e da Função Pública.
E foi uma solução arrancada a ferros, para permitir que os doentes pudessem ser encaminhados para outras clínicas ou hospitais porque, um único oftalmologista no quadro clínico impede, até hoje, a realização de cirurgias ou tratamentos mais diferenciados como são as injeções intravítreas. E sem validação de propostas, como aconteceu durante alguns meses, os utentes ficaram entregues à sua sorte quando julgavam figurar numa lista de espera dinâmica.
Como pretende resolver a falta de recursos humanos na Unidade Local de Saúde da Guarda?
Carlos Chaves Monteiro - Candidato do PSD
Assim que o Governo publicou no dia 1 de julho "a deficitária" lista de vagas para médicos do hospital, Carlos Chaves Monteiro convocou uma conferência de Imprensa onde chamou a atenção para a "desconsideração" que o Governo fez à Guarda. Em ato contínuo, pediu a intervenção do presidente da República para que a região possa beneficiar da sua magistratura, em defesa "do regular funcionamento das instituições".
Luís Couto - Candidato do PS
Reconhecendo que o número de vagas para médicos atribuídas pelo Governo à Guarda é insuficiente, Luís Couto diz ter encetado contactos para reverter a situação para que fosse autorizada a contratação direta como já aconteceu. Para o candidato, a polémica foi "artificial" e serviu apenas para o candidato do PSD legitimar "um acordo nunca explicado" e um "negócio opaco" que prevê a construção de um hospital privado em terrenos públicos.
Pedro Narciso - Candidato do CDS/PP
Encarado pelo candidato como um "problema crónico" do distrito, a falta de especialistas "obriga a contratualizar serviços médicos que assegurem o funcionamento contínuo das Urgências". Pedro Narciso está disposto a reivindicar junto do Governo "iniciativas legislativas que alterem o regime jurídico do internato medico, que inclua um novo regulamento especial de atribuição de vagas ao interior do país".
Honorato Robalo - Candidato da CDU
A reabertura de todas as extensões de saúde para evitar a concentração de utentes e atenuar as dificuldades na acessibilidade dos idosos, dependentes e mais carenciados, é uma das reivindicações do candidato da CDU. Honorato Robalo defende ainda "a criação de um plano estratégico de fixação de recursos humanos formados na região". Diz ainda que o poder local deve lutar pela requalificação do Pavilhão 5 e dos edifícios históricos.
Jorge Mendes - Candidato do BE
A ausência de obras no Pavilhão 5 e a recente polémica do número reduzido de vagas para especialidades no hospital da Guarda são, para Jorge Mendes, "apenas dois exemplos da quase ausência de políticas concretas que favoreçam a Guarda e todo o Interior de Portugal". O candidato bloquista considera que "é preciso refletir sobre a saída de tantos médicos que trabalharam neste hospital e tomar as medidas necessárias".