O recenseamento serviu para a população desabafar, e muita da revolta de moradores despejados das casas onde viveram uma vida acabou estampada nas redes sociais.
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Quem andou na ilha da Oliveira a coletar as informações ficou sensibilizado para o destino de seis famílias que têm de abandonar as suas pequenas casas, após a diocese do Porto as vender a um promotor de Fafe. "Estamos muito magoados. Não estávamos à espera que a Igreja nos fizesse isto. Pelo menos, tinham uma palavra para connosco", referem os moradores.
Maria Luísa diz-se enganada. Vive na ilha há 34 anos, mas há cerca de três anos e após muitos pedidos para que lhe fizessem obras na casa, mudou da habitação 2 para a 3. Mas mudaram-lhe também o contrato. Em fevereiro, todos receberam uma carta da diocese com a informação de que o bairro ia ser vendido. Um mês depois, outra missiva dava o direito de preferência.
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"Com as reformas e a idade que temos, como é que íamos comprar?", diz Maria Luísa, de 69 anos. Terá de procurar casa até agosto, mês em que entregará a minúscula casa ao novo senhorio. "Pago 150 euros de renda e não posso pagar mais porque a reforma é pequena. Onde vou morar?", diz de voz embargada.
Vitória Sequeira, de 71 anos, tenta manter a postura e a calma, mas os olhos não escondem a tristeza. Veio morar para o Porto na adolescência. Esteve emigrada em França mas regressou há anos. "Gosto do Porto e não quero ir para a periferia. Para isso, vou para a minha terra", diz. No verão seguirá para Celorico de Basto, para junto da família.
Ao lado, a vizinha ilha do Sol é hoje um alojamento local. "Foram todos embora. Éramos uma verdadeira família", recorda Maria Luísa. Isabel Conceição, de 72 anos, diz que não sai. Mora ali com o marido, os filhos e uma neta. "Não tenho dinheiro para pagar uma renda e depois não há casas para os rendimentos que temos. Devíamos ter sido ouvidos", defende.
Contactada pelo JN, a diocese diz que tem inúmeras obras de caráter social, mas o imóvel em causa "não estava (nem nunca esteve) enquadrado nesse fim social, tendo sido alienado no seguimento da necessidade de reforço de fundos causada pela pandemia covid-19, parte dos quais serão, eventualmente, afetados a tal fim social". Assegura "a legalidade e transparência, quer do processo de venda, quer dos processos de oposição à renovação dos contratos", e está disponível para, junto dos seus ex-inquilinos, "encontrar soluções que permitam o seu realojamento de forma condigna".