Iniciativa municipal "A rua é nossa" regressou neste domingo à Avenida Rodrigues de Freitas, na Baixa do Porto, que se encontra encerrada ao trânsito. Apesar da chuva, o público quis experimentar atividades como jogos tradicionais.
Corpo do artigo
O entusiasmo incansável de Hélder, aliado à novidade dos jogos em madeira que está constantemente a criar e a recriar, bastam para derrotar a chuva que promete dispersar quem se aventura a experimentar a sensação de poder divertir-se em plena faixa de rodagem da Avenida Rodrigues de Freitas, artéria da Baixa do Porto de duplo sentido e tráfego intenso que, neste domingo, está interdita à circulação automóvel para ficar apenas entregue aos peões, para nova edição da iniciativa municipal "A rua é nossa".
Sob o arvoredo que abriga a via que se espraia entre o Largo Soares dos Reis e a Rua Entreparedes, é como se o espaço se transformasse num jardim - como o de S. Lázaro, logo ali ao lado -, mas com o piso marcado pelas linhas de trânsito e os semáforos a medir alturas com os troncos enrugados das árvores.
"Aqui, o que mais prazer dá é ver o avô, o neto e os pais a dizerem: 'vou ganhar'", sorri Hélder Sucena, que tem 12 jogos ao longo do troço da avenida entre as ruas Duque da Terceira e Barão de S. Cosme. Os irmãos Maria e Manuel, que moram a poucos metros deste palco improvisado, estão encantados: de jogo em jogo, levam os pais e o avô atrás, para experimentarem cada um. "Já joguei todos, e é muito divertido", confessa a menina de nove anos, lembrando que "no outro ano também foi difícil, por causa da chuva". Ana Gomes, a mãe dos pequenos, "queria que fosse um dia mais bonito", mas garante que, mesmo sem a ajuda de S. Pedro, "aproveitar estes momentos é melhor do que estarmos em casa, fechados".
"É fixe, e tira daqui os carros. Para os miúdos é bom andar de bicicleta e participar nestes joguinhos", avalia António Oliveira, que mora na Avenida Fernão de Magalhães e quis "experimentar" participar na iniciativa com o filho, Tiago, e com o cunhado, Artur Pereira. "Ganhei!", exclama Tiago, que só desanima com a condição meteorológica: "é pena o tempo estar foleiro". Há mais jogos à espera, e Conceição Morais, que acompanha o marido na empreitada que batizaram de "Jogos do Hélder", dá uma ajuda. "Os jogos são mais ou menos intuitivos; a pessoa chega e joga, mas vamos tentando ajudar", diz.
"Os jogos estão sempre ocupados. Onde quer que vá, é sempre assim, e por incrível que pareça, numa época digital", nota Hélder Sucena, referindo que "há uma proximidade muito grande aos jogos tradicionais, e o facto de serem todos muito simples de jogar e de serem praticamente todos feitos em madeira" poderá ajudar a explicar o fenómeno de adesão. Com inspiração ancorada nos jogos medievais e tradicionais de Portugal e de outros países, o criador destes divertimentos considera que "devolver a rua às pessoas é um projeto incrível, porque hoje em dia a sociedade não lhes permite muito tempo; há um stress muito grande e é muito bom quando existem estes momentos".
Indisfarçável é ainda o entusiasmo da família da italiana Rebecca Sperati, que começara a jogar às 10 horas e ao início da tarde ainda repete a experiência em alguns dos 12 engenhos em madeira. "É muito fixe e divertido. Não temos disto em Itália, e experimentamos tudo várias vezes", conta a jovem, a sorrir, enquanto assiste à "competição" entre o irmão e o primo, que disputam a melhor pontuação em cada jogo.
Chegados de Valongo para "almoçar no Porto", Manuela e Amaro Vieira também se renderam aos jogos de Hélder. "É divertido não só para os mais pequenos mas, também, para os maiores", ri a sexagenária, enquanto se prepara para testar a destreza e a pontaria num dos jogos. É o terceiro jogo que o casal experimenta, já sob a chuva que não desiste e que acaba por afastar os mais pequenos da gincana de ciclismo, mais à frente, diante da Faculdade de Belas-Artes.