Há quem fique sem dinheiro nem refeição. UberEats lidera críticas. Glovo diz que são "residuais".
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Registaram-se quase duas mil reclamações nas entregas de refeições ao domicílio entre março e setembro deste ano. As queixas surgem na sequência do aumento exponencial da procura do serviço no período de confinamento, que se traduziu também no elevado número de estafetas que andam nas ruas. Só na plataforma Fixando, de contratação de serviços, estavam registados 1133. Mas o número total de estafetas é bastante superior. Até porque, por exemplo, só a Glovo, que opera em 90 localidades, teve um aumento de 800 estafetas nos últimos seis meses.
Ainda segundo os dados da Fixando, que não divulga os valores absolutos por distrito, o Porto registou o maior aumento de profissionais de entrega de refeições em Portugal, com um crescimento de 1375%. Seguem-se Faro e Setúbal, com uma subida de 1250% e Lisboa com 1086%.
De acordo com o Portal da Queixa, houve quase duas mil reclamações relativas ao serviço (um aumento de aproximadamente 300% em relação ao mesmo período do ano passado). O principal motivo é a falha na entrega dos pedidos. Vários consumidores denunciaram ter ficado sem o dinheiro e sem a refeição.
Às reclamações das falhas nas entregas seguem-se os pedidos de reembolso pelo valor gasto na encomenda, que demoram a ser concedidos ou nunca o chegam o ser, aumentando a dificuldade do cliente em resolver o problema. Isto porque, se o estafeta identificar o pedido como "concluído", apesar de a refeição nunca ter sido entregue, a empresa recusa-se a devolver o dinheiro por ter a indicação de que tudo foi cumprido como esperado. As queixas incluem, ainda, o atraso na entrega das refeições e a falha de produtos.
O interesse pela atividade justifica-se, em boa parte, com o aumento de pedidos feitos nas plataformas da UberEats e da Glovo durante o período do estado de emergência (de 22 de março a 2 de maio). Também ao nível do número de encomendas, o Porto foi o distrito que mais se destacou, com uma subida de 1700% de pedidos face à mesma altura de 2019.
Estafetas independentes
A marca com mais reclamações, ainda de acordo com o Portal da Queixa, é a UberEats, com 78%. O JN pediu esclarecimentos à plataforma mas não obteve resposta. Segue-se a Glovo, com 21%. O responsável pela plataforma em Portugal, Ricardo Baptista, garantiu ao JN que, perante o número de utilizadores satisfeitos, as reclamações reveladas pelo Portal da Queixa são "muito residuais", representando menos de 0,01% face ao total de entregas realizadas pelos estafetas diariamente.
Uma das razões que poderão justificar essas reclamações é o processo de contratação da empresa que, relativamente aos estafetas, não existe. "Os profissionais que efetuam as entregas fazem-no de forma independente, quando e como desejam, recorrendo à nossa aplicação", explica Ricardo Baptista.
Ainda assim, a Glovo é a plataforma com a taxa de resposta ao cliente mais elevada (99,5%), seguindo-se a UberEats com 89%.
Número
800 novos estafetas na Glovo
Nos últimos seis meses, a plataforma Glovo registou um aumento de 800 estafetas a trabalhar através da aplicação. Também o número de parcerias da marca aumentou 170% em relação ao ano passado.
Pelo Mundo
Novos empregos
No Reino Unido, o maior foco de crescimento de novos empregos é no serviço de entregas ao domicílio. Só a Amazon, por exemplo, abriu 15 mil novos postos de trabalho desde o início da pandemia de covid-19.
Procura mundial
Na Alemanha, a Delivery Hero, maior empresa alemã de comida ao domicílio, registou um aumento de 92% de procura e, de acordo com a revista Bloomberg, prevê faturar mais de 515 milhões de euros até ao final do ano. Do outro lado do Mundo, na Tailândia, os pedidos aumentaram 20 vezes em relação ao período pré-pandemia.