Dia Mundial da Bicicleta. Economia, ambiente e saúde pelo paradigma de transporte seguro.
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A invenção que os chineses reclamam há 2500 anos, que deste lado do Mundo é atribuída a Da Vinci e a quem um ferreiro escocês introduziu os pedais, em 1839, redescobre valor estratégico, económico e ambiental, nas políticas de reordenamento dos territórios e de saúde pública. Hoje é o Dia Mundial da Bicicleta, que assinala a agenda de todos os tratados internacionais pela descarbonização e pela mobilidade suave. Por cá, também.
O Congresso Ibérico "A Bicicleta e a Cidade", que decorrerá entre esta quinta-feira e domingo, em Barcelos, relança o debate pela mobilidade sustentável e pelos méritos da bicicleta, na saúde e pela economia, em circuitos que se pretendem cada vez mais curtos, sobretudo em meios urbanos.
A Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta (FPCUB) é uma das maiores interessadas neste debate e tem contribuído para a adoção de novas soluções de mobilidade, ecológicas, económicas e, sobretudo, mais seguras.
"Uma das coisas que já propusemos foi limitar a 30 quilómetros/hora a velocidade máxima dentro das cidades e das localidades. Está provado que esta medida simples reduz em 20% os acidentes com mortes e em 80% os feridos graves entre os ciclistas. Em Espanha, já foi adotada em todas as ruas de sentido único", observa Manuel Barros, da FPCUB-Delegação do Porto.
A conflitualidade entre o automóvel e a bicicleta, sobretudo em meio citadino, é precisamente, um das batalhas que mais mobilizam os amigos dos velocípedes. A mais recente revisão do Código da Estrada já lhes concede mais proteção, mas os ciclistas continuam a reclamar segurança redobrada. "Sempre que possível com vias segregadas", como Manuel Barros chama aos circuitos de exclusividade das duas rodas, sem interseções, zonas comuns de rodagem com automóveis ou de partilhas com peões.
A FPCUB exige "políticas públicas eficazes" pela bicicleta e, sobretudo, pela segurança dos ciclistas. O uso obrigatório de capacete permanece em discussão. O seguro também não é obrigatório: com a cota anual de 30 euros, os sócios do FPCUB têm uma apólice contra terceiros; proteção semelhante no mercado de seguradoras ronda os 50/60 euros.
Mais ciclovias
Em Aveiro, uma das cidades que lideram, juntamente com Lisboa, Porto e Cascais, o ranking Bike Friendly Index do Centro de Investigação em Arquitetura, Urbanismo e Design da Universidade de Lisboa, tem crescido o número de pessoas que usa as duas rodas e a Câmara tem vindo a criar novas ciclovias, nomeadamente junto ao campus da universidade. Na obra de reabilitação da Avenida Lourenço Peixinho, em curso, também estão previstas vias para bicicletas, mas o projeto merece críticas das associações que representam os ciclistas, sobretudo porque as vias são partilhadas com autocarros e táxis.
As ciclovias têm também vindo a ganhar espaço em Lisboa, desde 2017, mas foi no último ano que receberam mais adeptos, com "um aumento de 140% de ciclistas desde o início da pandemia até outubro do ano passado". Segundo a Autarquia, só na Avenida Duque de Loulé, por exemplo, circulam hoje o dobro dos ciclistas de há um ano. Em 2017, a cidade tinha 90,5 quilómetros de rede ciclável e, neste momento, estão construídos cerca de 140 quilómetros e em construção 15 quilómetros.
2344 acidentes
Segundo o Relatório Anual de Segurança Rodoviária, em 2019 registaram-se nas estradas portuguesas acidentes com 2344 bicicletas, de que resultaram 26 mortos, 106 feridos graves e 2104 feridos leves.
Em 2018, os acidentes com ciclistas causaram no distrito do Porto quatro mortos e seis feridos graves. No mesmo ano, no distrito de Lisboa, os acidentes com bicicletas provocaram três mortos, 13 feridos graves e 303 feridos leves.
Comboios
Foram criados nove comboios de bicicletas, em Lisboa. O programa permite às crianças irem de bicicleta para a escola acompanhadas por monitores. Há 16 linhas, horários definidos e as crianças juntam-se ao comboio em "estações". A Câmara garante deslocações para 10 escolas e 198 ciclistas.