Pela segunda vez, Associação de Proprietários de Vila d'Este, em Gaia, acolhe curso. Formação é dirigida a 11 alunos sírios e afegãos.
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Chegaram a Portugal com as vidas desfeitas. Uns deixaram a Síria, outros o Afeganistão, e agora tentam alcançar a merecida normalidade num país amigo, onde foi preciso começar do zero. São 11 refugiados que, além de tudo o que a história já lhes deu, têm em comum o facto de estarem a aprender português na Associação de Proprietários de Vila d'Este, em Gaia. Essencial para se tornarem autónomos.
Encontram-se com a professora três vezes por semana. Embora digam que o português é difícil, a verdade é que já se lhes nota desembaraço: chegam a corrigir-se uns aos outros, dizem sem hesitar o dia da semana e do mês e conjugam os verbos com relativa facilidade. Isto, apesar de as aulas terem começado quase no final de fevereiro e de, inclusivamente, ter havido uma pausa para celebrar o Ramadão.
Para este tipo de ensino "não há uma fórmula", diz-nos a professora Fabiana Lage, há 20 anos ao serviço do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), entidade que promove os cursos PLA-Português Língua de Acolhimento, no caso em parceria com aquela associação. Primeiro, "é preciso criar empatia" com os alunos, prossegue, acrescentando ser também essencial "sentir as necessidades que têm no momento e integrá-los no grupo".
aulas temáticas
Por isso, as aulas são temáticas e muito dirigidas à gestão do dia a dia. O objetivo é "dar-lhes meios para conseguirem a sua autonomia, com vista à integração social, profissional e cívica", explica Sílvia Rocha, coordenadora dos cursos PLA no IEFP de Gaia.
O JN acompanhou uma aula focada na comunicação e vida em sociedade. E nada melhor do que jogar o Loto, desconhecido nos seus países de origem, para se relembrar os números, as cores e os diversos tons, o plural de "cartão", a distinção entre vertical e horizontal. Foi Wajih quem saiu vencedor, ao fazer "linha".Alguns estão em Portugal há apenas cinco meses, como Atiqullah, de 25 anos, que era professor de inglês no Afeganistão. Quer encontrar emprego rapidamente. Zaher, sírio de 32 anos que tem os pais entre os colegas de turma, também chegou há cinco meses. Explica prontamente o motivo de ainda não trabalhar: "Estou a estudar com a professora Fabiana".
Hend vive em Gaia há seis anos. Interrompeu a função de auxiliar educativa numa creche de Miramar para tomar conta do filho mais novo, mas pensa regressar em breve. "Eles ajudam-se muito uns aos outros", garante a formadora, acrescentando que Hend "faz a ponte" quando a comunicação é mais difícil.
Este é o segundo curso PLA em Vila d'Este. António Moreira, da secção de Asilo e Refugiados da associação, explica o motivo desta parceria: "Quando sentimos as necessidades das pessoas e elas mostram interesse em aprender português, dá-nos uma ideia de que têm um projeto de vida e querem ficar em Portugal. E a nós dá-nos a responsabilidade de encontrar uma solução".
Tome nota
Gaia e Espinho
Em 2021, o IEFP de Gaia levou a cabo 15 cursos de PLA no concelho, envolvendo 243 pessoas. Neste tipo de formação, o raio de ação do instituto estende-se também a Espinho. Por norma, as aulas decorrem nas suas instalações.
Procura aumentou
Com a chegada de refugiados ucranianos, o IEFP teve necessidade de triplicar o número de profissionais destacados para esta modalidade de ensino.
Recebem apoios
Os alunos recebem do instituto uma bolsa de formação, subsídio de alimentação e, quando necessário, subsídio para transporte.