Carro cheio, quase parado no meio da estrada e os olhares todos postos no mesmo: uma nesga que permita estacionar. Quando finalmente há um lugar que se abre, ao fim de muita procura, solta-se um suspiro de alívio, como se fosse um festejo."Ainda vamos chegar a tempo de ver os farricocos", ouve-se.
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Dali à Igreja da Misericórdia, em Braga, de onde todos os anos sai a procissão do Senhor Ecce Homo, são pouco mais de cinco minutos, mas há muita gente nas ruas, o que por vezes obriga a abrandar o passo ou a contornar quem segue de forma mais vagarosa. O cortejo é aberto pelos farricocos, figuras exóticas, totalmente vestidas com túnicas pretas, cabeça tapada e descalços, de cordas à cinta, como outrora os penitentes públicos.
Avançam munidos de matracas, fogaréus e pinhas perante o olhar atento da multidão que ali se juntou, que rapidamente puxa dos telemóveis ou das máquinas fotográficas para registar o momento.
O espanto de quem assiste
"Espanto" é, de resto, a palavra usada pela italiana Rosanne De Benedetti para descrever todo aquele ambiente. Em conversa com o JN, elogia o "sentido de comunidade" patente, o facto de "novos e velhos interagirem", de "haver muitas pessoas" nas ruas.
"É a primeira vez que vivo a Semana Santa e estou a adorar", diz.
Habituado a estas cerimónias, a que assiste "todos os anos", nem por isso o bracarense Arnaldo Gonçalves deixa de se sentir "maravilhado" com os cerimoniais da Semana Santa, em especial as procissões de quinta, Ecce Homo, e de sexta-feira, Enterro do Senhor.
"Da Procissão da Burrinha não gosto tanto. Estas duas são mais religiosas, aquelas a que faço questão de assistir. A Semana Santa é um momento muito especial, há qualquer coisa que mexe connosco", garante.
Braga é, aliás, uma "cidade muito marcada pelo catolicismo", como lembra Martinha Silva, o que faz com que haja uma "identificação forte" com estas celebrações. "Há um sentimento de pertença muito grande", frisa a bracarense.
De forma vagarosa, sempre acompanhada por uma multidão, a procissão que evoca o julgamento de Jesus passou por várias ruas do centro histórico de Braga, exibindo os farricocos, o andor do "Senhor da Cana Verde" e os quadros representativos das 14 obras da Misericórdia, a quem coube a organização.