Unidade hoteleira é bem recebida pelos moradores, que não escondem, no entanto, receio da pressão imobiliária.
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É das zonas mais pitorescas da cidade e das que mais têm sentido a pressão imobiliária, existindo queixas de moradores, designadamente idosos, que se dizem forçados e ameaçados a abandonar as casas onde viveram durante décadas. Miragaia prepara-se agora para uma nova vida, com a construção de um hotel de uma grande cadeia internacional que ficará instalado num edifício quinhentista e que promete alterar as vivências e a paisagem.
O Porto ultrapassará, neste ano, a centena de hotéis. Atualmente, há 92 unidades (6255 quartos) e para 2019 previa-se a abertura de mais 15, indicou a Associação da Hotelaria de Portugal. O novo hotel de Miragaia, obra de 10 milhões de euros, deverá ser inaugurado em finais de 2020.
"O edifício estava abandonado e a cair. É bom que seja recuperado e que traga gente nova para aqui. O importante é que também as pessoas que aqui sempre viveram sejam acarinhadas e não tratadas como até agora", diz Maria Nazaré Pinto, nascida e criada em Miragaia, há 65 anos. "As pessoas estão a ser forçadas a sair. Isto está cada vez mais deserto!", acrescenta.
António José Fonseca, presidente da União de Freguesias do Centro Histórico, e grande crítico da gentrificação que tem tido efeitos profundos ao nível social, não contesta a instalação da unidade hoteleira em Miragaia, "até porque o edifício estava ao abandono e não havia qualquer projeto de habitação para ali".
"O importante é que estes novos investimentos não roubem o espaço habitacional. Neste caso, o hotel até pode dinamizar aquela zona, nomeadamente o comércio local", diz o autarca.
O hotel será instalado na antiga sede da Associação Recreativa e Desportiva de São Pedro de Miragaia um edifício quinhentista cuja fachada, de acordo com fonte da cadeia hoteleira Eurostars, "será respeitada". Será um "hotel contemporâneo" com 72 quartos. O investimento ronda os dez milhões de euros, estando as obras já numa fase adiantada, prevendo-se a sua inauguração em finais de 2020.
Miragaia é ainda uma zona com poucas unidades hoteleiras embora o alojamento local já se faça sentir fortemente. "Daí que considere que projetos como este acabem por ser importantes, até para fazer concorrência e disciplinar o alojamento local", refere António José Fonseca.
Os moradores da freguesia é que mostram alguma desconfiança. Temem que a zona perca a sua autenticidade. "Temos aqui as nossas raízes e sabemos o que tem acontecido noutras zonas. Também aqui há gente a sair", refere Isolina Cândida, de 64 anos, que mora numa das casas instaladas na Quinta do Loureiro. Trata-se de uma espécie de ilha, com pequenas casas, muitas delas bastante degradadas.
"Acha que depois do hotel estar feito vão querer estas casas mesmo em frente? A tapar as vistas aos turistas?", questiona a moradora. Também Maria da Conceição Cunha e o marido não escondem o receio. "Não saio daqui por dinheiro nenhum, porque foi aqui que sempre vivemos", afirma a moradora, de 78 anos.
"É normal as pessoas terem medo, mas estes investimentos muitas vezes trazem vantagens", refere o presidente da União de Freguesias, que garante que vai estar "atento".