Diamantino Barros, líder e fundador da associação Resgate Adoção Viana (RAV), entra sem medo num acampamento cigano em Darque, Viana do Castelo. Estima que ali estejam "60 a 70" animais errantes, alguns potencialmente perigosos. As queixas de ataques na via pública têm-se sucedido e a PSP pediu ajuda para entrar no acampamento e capturar cães agressivos. É mais uma das missões da RAV, que depois trata os animais e os encaminha para adoção.
Corpo do artigo
"Quase todos os dias recebemos pedidos. Aqui viemos porque nos ligou o comissário da PSP. Há três dias que há queixas consecutivas que os cães andam a atacar", comenta Diamantino, que avança por entre barracas com chão de terra batida e rodeadas de lixo. Seguem-no os voluntários Filipe Palma e Catarina Viana, e o cão Trovão, que há quatro anos foi retirado daquele mesmo acampamento, por ser perigoso, e agora faz parte da equipa de resgate. Acompanham a operação três agentes da PSP à paisana [mais tarde juntar-se-á uma patrulha], sob o olhar atento de homens, mulheres e crianças que saem, espantados, das barracas.
"Encantador de cães"
"Barros", como é conhecido entre os polícias, indica os locais onde suspeita que haja cães para capturar. Localiza-os, aproxima-se sorrateiro, encara-os, amansa-os e em pouco tempo está a metê-los na carrinha, com a ajuda de Filipe e Catarina. Usa laço quando algum se torna muito agressivo.
Catarina, a mais recente voluntária da RAV, tenta apanhar uma cadela, que começa a ladrar furiosa e ameaça atacá-la. Diamantino age rapidamente. Coloca-se entre a colega e o animal. Agacha-se e estende o braço em direção à cadela, que em poucos segundos acalma.
"O Barros é um encantador de cães", comenta a jovem, perante o espanto dos repórteres e dos agentes. Um dos polícias confidencia: "É tudo muito bonito no papel, mas no terreno para nós é difícil. Ele resolve tudo".
Diamantino diz que entra "onde as associações de proteção dos animais não entram". Empresário de jardinagem, com 43 anos, apaixonado por animais, criou há quatro meses, com o apoio financeiro de um outro empresário de Viana do Castelo, benemérito no anonimato, o abrigo da RAV onde acolhe canídeos resgatados, em situações de perigo, feridos e maltratados, em parceria com a PSP, GNR e veterinário municipal. Agora estão lá "mais de 60".
Do acampamento de Darque foram retirados 13 cães sem chip, sujos, desnutridos, doentes e cravejados de carraças. Algumas crias desfaleciam no meio de detritos e excrementos. Foram levados para um veterinário, que apoia a RAV. "São espetaculares. Ninguém permite que cheguemos a uma dívida de 8000 euros, como temos atualmente", louva Diamantino, referindo que aquela associação trabalha com voluntários e praticamente "sem apoios" oficiais. Vive de donativos e ajudas. "Quando alguém dá dinheiro encaminhamos para a clínica e o empresário que nos deu o abrigo também já transferiu da conta dele", revela.
Filipe Palma, de 40 anos, trabalha numa fábrica. O tempo livre dedica-o à RAV, já lá vão dois anos. "Permite-me ajudar e ter todos os animais que eu quero. É uma alegria" porque "custa ver tantos cães em más condições".
Catarina, 32 anos, trabalha como tratadora de animais e prolonga o ofício às horas vagas. "Gosto mais de animais do que de pessoas, por isso...".
No abrigo da RAV, os cães andam à solta, quase não ladram e preguiçam no chão "felizes e sossegados". Rafael, de 10 anos, filho de Diamantino, deita-se no meio deles.