Há fartura na lota e, dizem pescadores e consumidores, já "pinga no pão". Um quilo custa 6,5 euros no mercado, à mesa chega aos 30.
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A dois dias da grande noitada, o preço da sardinha já começou a subir. Os pescadores dizem que "é boa, gordinha e com um tamanho jeitosinho". No mercado, quem compra queixa-se dos preços, mas nem por isso a procura diminui. Afinal, o São João é só uma vez no ano. Entre a lota e o prato, o preço sobe mais de 20 vezes.
"Não é aquela gorda, gorda. Ainda não "chora" na brasa, mas já pinga no pão e é muito gostosa", atira, sorrindo, Carlos Braga, olhando para a tripulação que, em gestos quase mecânicos, separa a sardinha do carapau e, à direita e à esquerda, vai enchendo os cestos. O mestre do "José Dinis" crava a unha numa sardinha. Mostra a gordura gelatinosa, entre a pele e a carne. O barco foi pescar quase a Aveiro. Chegou às 8 horas, carregadinho com a "conta" que as regras o deixam trazer.
Cestos cheios, Carlos carrega o empilhador e segue em direção à venda. Em poucos minutos, regressa. As mais "gordinhas" saíram a 37 euros o cabaz (22 quilos), mas também as houve a 27 e a 32.
Preço não é proibitivo
"Hoje [ontem] tem andado entre os 30 e os 37 euros o cabaz, ou seja, 1,5 euros o quilo", conta Agostinho Mata, da Propeixe, a cooperativa de Matosinhos que agrega 28 barcos da sardinha. Com mais quota para pescar e mais fartura no mar, os preços tendem a não chegar aos proibitivos 200 euros o cabaz de 2016. Ainda assim, e apesar de ser "peixe macaqueiro" (de um tamanho médio), admite que hoje e amanhã são dias de ganhar dinheiro.
Da lota ao mercado do peixe de Matosinhos são meia dúzia de passos, mas, no que toca a preços, a diferença é gigante: a sardinha de Peniche está a 6,5 euros o quilo. Grande, gorda. Um quilo dá 13 unidades. Fátima compra três quilos. "É cara, mas, nesta altura, é sempre assim", afirma, resignada. O santo só se festeja uma vez por ano e, por isso, o "investimento" acaba sempre por ser feito.
Nos restaurantes, na noitada de S. João, não se regateiam preços. Dez sardinhas com batata e pimento são 30 euros no Alfândega, em Vila do Conde. "A sardinha está cara, subiu o pimento, a batata e o carvão e, em noite de festa, os funcionários ganham mais", justifica Paulo Rodrigues, que nessa noite nunca tem mãos a medir e chega a vender 1500 sardinhas. O santo é só uma vez por ano. Para uns "é pena", para outros "um alívio".
Pormenores
Subida do cabaz
Ontem foi o primeiro dia em que os preços começaram a subir, na lota de Matosinhos. Nos dias anteriores, o cabaz andava entre os 18 e os 20 euros, mas acabou por chegar aos 37.
Mais quota
Até novembro, os pescadores portugueses de sardinha têm uma quota de 29 400 toneladas, contra as 11 500 de 2016, ano negro para as gentes do mar. Entre 2020 e 2022, os totais de captura subiram 131%.