O coordenador do Laboratório Associado de Sistemas Inteligente, Paulo Novais, diz que estamos numa “excelente divisão”, com craques nas melhores empresas do mundo, mas “falta investimento” para não deixar fugir os melhores para o estrangeiro.
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Em que campeonato está Portugal no jogo da Inteligência Artificial (IA)? Na Liga dos Campeões ou na Distrital? Paulo Novais, professor da Universidade do Minho e coordenador do Laboratório Associado de Sistemas Inteligentes (LASI), respondeu que “jogamos numa excelente divisão, com investigadores nas melhores empresas do mundo”. A questão foi colocada esta sexta-feira pelo Diretor Digital Editorial do JN, Manuel Molinos, no painel “A Inteligência Artificial é nossa amiga?”, da conferência “Cultura e Tecnologia”, que decorreu no Centro de Congressos de Aveiro, organizada pela Câmara e JN e integrada na Capital Portuguesa da Cultura 2024.
Paulo Novas afirmou que o grande problema nesta matéria é a “falta de investimento”, que dificulta a retenção dos talentos formados em Portugal, cobiçados por países como o Japão. “Precisamos de projetos que tenham impacto direto na criação de valor”, resumiu.
Novais dfendeu que a IA “não é nossa amiga, porque não é humana, não entende a realidade”, mas considerou-a uma “ferramenta que faz magia” se for usada de forma correta. “Caso contrário, até pode levar a uma diminuição do rendimento”, garantiu.
Num debate sobre o desenvolvimento dos sistemas computacionais que tem por base a inteligência humana, Paulo Novais defendeu que os sistemas de IA devem ter “alguma regulação, mas uma regulação que permita não perdemos o comboio da inovação”. E recusou a ideia de que países como os Estados Unidos ou a China não estejam a regulamentar a IA. “Há regras, podemos é não gostar delas. Mas há controle”, adiantou o especialista, acrescentando que prefere “um pouco mais a lógica ocidental”.
Ainda em matéria de regulamentação, Paulo Novais frisou que existe a esperança de que “a Europa seja um farol, um farol das liberdades e dos direitos”, depois de “um processo que ao início foi um pouco anárquico”. Mas mostrou, acima de tudo, preocupação com a forma como a sociedade está a utilizar a IA. “Eu gostaria de acreditar que vamos ao ChatGPT para ter respostas. Mas eu vejo cada vez mais pessoas a irem lá, não para ter respostas, mas para que o ‘chat’ diga o que fazer. Isso é o pior, porque depois perdemos o controle e é isso que me está a preocupar”, assumiu.
Pode ajudar as Câmaras
Rogério Carlos, vice-presidente da Câmara de Aveiro, que participou no mesmo painel, considerou que a IA pode ajudar os municípios a terem mais resultados com menos mão de obra, “facilitando o acesso e o atendimento dos serviços, evitando perdas de tempo e deslocações dos munícipes”. O autarca defendeu ainda a importância da ciência e tecnologia desde cedo nas escolas para um maior conhecimento dos jovens sobre a IA.
Luis Agrellos, managing partner da Gema, realçou o efeito positivo da IA na empresa, especialmente na parte criativa, “nomeadamente na ajuda da elaboração de textos” por parte de quem tinha dificuldades, e também na criação de imagens. O responsável da empresa de tecnologia e multimédia do Porto, um dos três convidados para este painel, alinhou na ideia geral que a Inteligência Artificial “serve para colaborar e não para substituir”.