Depois da pandemia, IPSS de Bragança e de Vila Real enfrentam a crise energética.
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A energia, eletricidade e gás, tem um peso tão grande no orçamento da Santa Casa da Misericórdia de Bragança (SCMB) que, com os aumentos previstos, pode desequilibrar as contas deste ano.
Estima-se uma derrapagem a chegar aos 600 mil euros. "Entre agosto de 2021 e agosto de 2022, tivemos um aumento de 230% no preço do gás natural. Se no ano passado gastámos cerca de 87 mil euros, este ano o valor subiu para 279 mil euros. Com a eletricidade e os combustíveis, que também custam mais, estimamos que até ao fim de dezembro cheguem aos 500 mil euros de gastos", calculou Duarte Fernandes, membro da mesa administrativa da SCMB.
Apenas os gastos com o vencimento dos mais de 300 funcionários ultrapassam os da energia consumida. "Temos uma fatura para pagar de 140 mil euros do gás natural, mas o preço vai triplicar. Até assusta", acrescentou o responsável.
A Santa Casa tem várias valências repartidas por quatro edifícios na cidade de Bragança, nomeadamente lar de idosos, unidade de cuidados continuados, creche, centro de educação especial, que representam mais de 430 pessoas. "Os utentes são uma população vulnerável, crianças, idosos, doentes ou portadores de deficiência. Não temos grande margem para poupar eletricidade e gás no próximo inverno, porque não lhe podemos faltar com conforto", referiu Duarte Fernandes, dando conta que as instalações "são antigas e não estão preparadas para a eficiência energética".
"Já fizemos a comparação dos custos do gás, o mesmo mês do ano passado face ao deste ano terá uma subida de quase quatro vezes mais"
Apesar de existir pouca margem para cortes na despesa, a instituição vai fazer um esforço para implementar algumas medidas de modo a gastar menos. "É andar pelos edifícios a regular os radiadores para otimizar o consumo. Na creche podem desligar-se desde o fim do dia até ao dia seguinte. Nas outras valências, é difícil cortar", admitiu Duarte Fernandes. A situação financeira da instituição não é famosa, prevê-se que piore. "Tivemos dois anos de pandemia, agora que acalmou, queríamos fazer um esforço para economizar, de modo a endireitar as contas, mas não é possível. Subiu tudo. Os bens alimentares também estão mais caros. Nós servimos perto de mil refeições por dia. As IPSS estão a levar por tabela", acrescentou.
A impossibilidade de mudar para o mercado regulado de gás é um problema. "Só é para consumidores que gastem até 10 mil metros cúbicos. Isso gasta a instituição num dia", afirmou.
Sem hipótese de poupar
A Fundação do Lar de Nossa Senhora das Dores, na cidade de Vila Real, está a encarar com "muita preocupação a chegada da estação fria". Prevê que a fatura mensal do gás, uma das mais pesadas, aumente até 1500 euros em relação ao que era normal.
"Governo, IPSS e quem as representa devem refletir sobre a economia social e a fiscalidade, como o regime do IVA e do IMI"
O administrador, Eugénio Varejão, exemplifica que "nos meses entre outubro e abril as faturas ultrapassavam facilmente os 3500 euros". Para a próxima época fria, já está a prever que sejam "superiores a 5000 euros".
Outra preocupação é o aumento da inflação e a subida de preços, com "particular incidência nos produtos alimentares, de higiene pessoal e habitacional, combustível das viaturas, e na manutenção e substituição de equipamentos".
O Lar de Nossa Senhora das Dores acolhe 67 pessoas. Eugénio Varejão admite que aumentar a comparticipação "não é uma solução viável". Por um lado, porque "é determinada pela tutela". Por outro, porque "a maioria dos residentes são pessoas com baixos ou muito baixos recursos financeiros". Para baixar custos têm vindo a ser implementadas medidas de poupança de água, eletricidade e gás.