Cerca de 300 figurantes vestidos de bispo, padre, freira, pescador, varina, padeiro, bombeiro, coveiro, cangalheiro e carpideira, desfilaram com ar pesaroso durante a encenação teatral do "enterro do bacalhau", que teve lugar na noite deste sábado em Soutocico, Leiria. Uma tradição pagã, que foi proibida po Salazar.
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"Que o bom bacalhau seja para eu comer, e que as sardinhas, sarnentas e salgadas, vos sirvam de sustento a vós." Entre copos de "sumos de parreira", para hidratar a garganta seca, o "padre pregador" iniciou, assim, o primeiro sermão do Enterro do Bacalhau, este sábado, no Soutocico, em Leiria. Realizadas pela primeira vez em 1938, as cerimónias fúnebres pagãs foram proibidas por Salazar, e a forma de protesto do povo só foi retomada em 1976. Desde então, a tradição foi recuperada e condimentada com sátira social e política.
A proibição da Igreja de consumir carne nas sete semanas da Quaresma, a menos que se pagasse a bula, obrigava o pé rapado a alimentar-se de bacalhau, por ser o peixe mais barato para saciar a fome às famílias. "Só que o filho da Maria Malvada denunciou-o às autoridades, para que o povo morresse à míngua", conta Sílvia Brites, presidente do Clube Recreativo e Desportivo do Soutocico, organizador do evento. "O traidor fundamentou o seu ataque por, durante o período de abstinência, só lhe ter calhado do bacalhau malcheiroso, do escamudo, do mal curtido, do seco e do rabo e asa."