Irene Ribeiro foi submetida a uma cirurgia para remover um cancro benigno nos ovários e morreu uma semana depois, no hospital de Guimarães. O intestino foi perfurado em três locais, o que terá provocado uma infeção generalizada.
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A mulher de 66 anos, residente em Arões Santa Cristina, no concelho de Fafe, entrou no Hospital Senhora da Oliveira (HSOG), em Guimarães, na segunda-feira, dia 13, "para fazer uma cirurgia simples de remoção de um cancro benigno", conta a neta, Natália Martins, de 26 anos. Depois de quase uma semana internada e de complicações que tiveram origem em três perfurações do intestino que ocorreram na mesa de operações, Irene Ribeiro morreu, no sábado, às 23.34 horas.
A família diz que os cuidados médicos foram negligentes e que foi essa a causa da morte. O HSOG emitiu um breve comunicado em que "iniciou o processo de inquérito para averiguar".
O funeral de Irene Ribeiro está marcado para esta segunda-feira, às 17 horas, mas a filha, Teresa Martins não sabe se vai acontecer, "porque eu acho que não fizeram autópsia ao corpo da minha mãe". A família reage à informação de que o HSOG vai abrir um inquérito, questionando se a autópsia não será fundamental para se apurar o que realmente aconteceu. "Tiraram-me a minha avó. Ela entrou para fazer uma operação que eles próprios disseram que era simples. A remoção de um tumor benigno", queixa-se a neta. "Na terça-feira, após a operação, disseram-nos que tinha corrido bem. Ela estava feliz, até brincava. Tinha algumas dores, mas disseram-nos que era normal no pós-operatório. Deram-lhe medicação e ficou tudo aparentemente bem", conta Natália Martins.
"Como é que é possível estar dez minutos em paragem dentro de um hospital?" - indigna-se a neta.
Paragem cardiorrespiratória de dez minutos
Na quinta-feira, Irene Ribeiro sentia dificuldade em ir à casa de banho e queixou-se de uma cólica. "Voltaram a dizer que era normal e deram-lhe medicação para facilitar o trânsito intestinal", relata a filha. Contudo, ainda na quinta-feira, à noite, "quando lhe telefonamos, já tinha muita dificuldade em falar e só soluçava ao telefone", conta a neta. Foi por isso que, logo pela manhã de sexta-feira, recomeçaram a ligar para o hospital. "Não me queriam dar informação, andavam a enrolar, mas lá acabaram por dizer que ela tinha tido uma paragem cardiorrespiratória de dez minutos e que estava nos Cuidados Intensivos", diz Teresa Martins. "Como é que é possível estar dez minutos em paragem dentro de um hospital?" - indigna-se a neta.
Três perfurações do intestino detetadas na sexta-feira
Segundo os familiares, Irene Ribeiro foi colocada em coma para lhe serem feitos exames que permitissem determinar a origem da paragem cardíaca. Por volta do meio-dia voltou ao bloco para verificarem o que tinha sido feito durante a cirurgia. "O médico disse-nos que tinha havido três perfurações do intestino e que o quadro clínico era muito grave. Disse-nos para chamarmos os outros filhos que vivem no estrangeiro, que suspeitava que ela não chegaria ao dia seguinte", conta a filha de Irene.
Equipa médica não falou com a família
Irene Ribeiro conseguiu sobreviver à noite, mas acabaria por morrer no dia seguinte, às 23.34 horas. A família queixa-se que ninguém da equipa que a operou, nem a ginecologista que a seguia, veio falar com eles, "mandaram o diretor de serviço que nem sequer fez parte da equipa", lamenta a filha. "Eu trabalho numa fábrica de calçado, não é tão importante, mas quando faço um erro tenho que me responsabilizar", aponta também a neta.
Teresa Martins não fica satisfeita com os argumentos do médico. "Disse-me que a minha mãe tinha feito duas cesarianas à moda antiga e que tinha os órgãos colados. Ora, a última cesariana que a minha mãe fez foi há 38 anos e ela estava em perfeita saúde. Tinha feito uma colonoscopia, entre o final do ano passado e o princípio deste e estava tudo bem com os intestinos", afirma a filha. "Diziam-nos que estava tudo bem, depois da operação e estava uma infeção a progredir. Não perceberam que a febre era anormal?" - queixa-se a neta.
Questionado sobre o sucedido, o HSOG emitiu um comunicado em que informa que "no âmbito da sua política de avaliação de risco e eventos adversos iniciou o processo de inquérito para averiguar, o modo de realização desta cirurgia, o risco associado à sua execução e o contexto - história clínica da paciente." O JN está a tentar confirmar se foi feita autópsia ao corpo.