Câmara do Porto aponta para abril o regresso de 500 alunos ao antigo liceu desenhado por José Marques da Silva. Em obras desde o final de 2019, velho edifício já cheira a novo.
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Foram vários os contratempos, mas agora tudo está encaminhado para que a Escola Secundária Alexandre Herculano reabra ainda neste ano letivo. A Câmara do Porto - que, na sequência de um acordo celebrado com o Ministério da Educação em 2018, viria a assumir a responsabilidade pela obra de reabilitação e uma parte dos encargos - aponta para abril o regresso dos alunos, cerca de 500, ao grande edifício da Avenida Camilo. Nessa altura, será encerrada a escola de acolhimento, a vizinha Pires de Lima.
Quando reabrir, terão passado 89 anos desde que o antigo liceu Alexandre Herculano foi inaugurado. Desenhado por José Marques da Silva e agora reabilitado a partir do projeto dos arquitetos Alexandre Alves Costa e Sergio Fernandez (Atelier 15), continua a ser um imponente edifício do século passado, mas adaptado às exigências atuais, em particular no que respeita a conforto e acessibilidade (por exemplo, passou a ter rampas e elevadores).
Voltará a ter museu e biblioteca, laboratórios, ginásio, balneários, refeitório, loja dos alunos e auditórios, como o antigo cinema, em que será reposto o desenho original. Com 29 salas de aula, o edifício continuará a receber luz natural através de cerca de 500 portas e janelas (só caixilhos, são mais de mil) e, no grande pátio interior, o passadiço que une duas alas vai deixar de estar fechado.
"Há um projeto novo em cima de um edifício pré-existente e quase não se dá por ele", refere ao JN Pedro Baganha, vereador com os pelouros do Urbanismo, Espaço Público e Habitação, aludindo ao que considera ser a grande revolução desta empreitada. Está em causa um imóvel classificado como monumento de interesse público (2011), o primeiro dos condicionamentos da obra, e os arquitetos, na sua opinião, "tiveram um respeito absoluto em relação ao valor arquitetónico original do edifício", que Marques da Silva desenhara em perfeito alinhamento "com as "beaux-arts" francesas".
Além dos atrasos provocados por alterações ao protocolo com o Ministério da Educação e pela revisão dos custos, a obra arrastou-se no tempo, também, devido ao estado de degradação do edifício. Houve uma infestação de térmitas, não foi possível reaproveitar certos materiais, a ala poente assentou, o que obrigou ao reforço das fundações, e foi preciso substituir o pavimento e toda a caixilharia.
No refeitório, foi necessário rebaixar o chão e enfrentar a dureza do granito, o que também complicou os trabalhos. Por fim, a pandemia não fez parar a obra, mas obrigou a reajustar e a alternar as equipas.
Longe vão os tempos em que, entre ensino diurno e noturno, o antigo liceu tinha cinco mil alunos, realidade em parte ditada pela diminuta oferta escolar dos concelhos vizinhos. Além disso, ali respirava-se prestígio, não só pela exigência e pelo rigor impostos pela escola, mas também porque o ambiente do Alexandre Herculano era transportado para os cafés da zona.
Fernando Paulo, vereador com o pelouro da Educação, recorda essa época. Estudou no Alexandre durante seis anos e acredita que, "além de representar uma memória social muito significativa", a renovada escola irá "afirmar ainda mais o Porto como cidade educadora". O responsável referiu-nos que, devido à transferência de competências para as autarquias, está a ser feito um estudo sobre o número de alunos no concelho.
A reabilitação desta escola custou 14 milhões de euros, suportados por fundos comunitários, Ministério da Educação e Câmara (cinco milhões). Depois da intervenção no edifício, haverá uma segunda empreitada destinada aos arranjos exteriores e à construção de um campo de jogos coberto.
Esta obra está incluída num pacote de 20 milhões de euros que a Câmara está a investir na rede escolar. A Escola Básica do Falcão (Campanhã) deve reabrir em janeiro, altura em que vai começar a reabilitação da Escola Básica dos Correios (Ramalde). No primeiro semestre de 2023 começará a obra na Escola Básica Agra do Amial (Paranhos).
O Alexandre Herculano e o D. Manuel II (atual secundária Rodrigues de Freitas) foram os dois grandes liceus que Marques da Silva desenhou no Porto. As reformas programáticas de então visavam um ensino moderno, mas também promover o desenvolvimento da cidade através desses grandes edifícios.