Dezenas de habitações danificadas pela empreitada de enterramento da linha férrea.
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Há cinco anos que dezenas de moradores de Espinho reclamam a reparação das casas, danificadas pelas obras de enterramento da linha férrea. Desesperados com a falta de respostas da Refer, temem pela segurança das habitações.
Conceição Mendes mora na Avenida S. João de Deus, na Marinha de Silvalde, mesmo em frente do túnel por onde passam, há já cerca de ano e meio, os comboios que antes dividiam a cidade. A construção do subterrâneo, com brocas a perfurar o solo muito rochoso, e a passagem de dezenas de camiões carregados de brita, fez estragos consideráveis na habitação: caíram pedaços de estuque do tecto, abriram-se brechas nas paredes e surgiram fendas na tijoleira do chão.
Os danos são tantos que Conceição Mendes teme que a segurança da sua família - marido, três filhos e dois netos, de quatro e seis anos - esteja em risco.
"Sempre que vou trabalhar, saio com o coração nas mãos: sou obrigada a deixar sozinha uma filha que infelizmente é deficiente e não consegue andar. Se, por acaso, cai-lhe em cima algum pedaço de tecto ou até mesmo parte de uma parede, ela não tem ninguém que a ajude. A minha única esperança é que alguém a ouça no café aqui ao lado e a acuda", contou, ao JN, em tom desesperado.
"Quando foi este último temporal, o meu vizinho até nos disse que tinha passado a noite à espera de nos ouvir gritar por socorro. Toda a gente conhece o problema. Só a Refer não quer saber", continuou Conceição Mendes.
Dezenas de pessoas esperam, há anos, que a REFER ou a seguradora do consórcio que fez a obra assumam o pagamento das reparações. Uma espera vã.
"No meu caso, a REFER mandou-me pedir orçamentos a dois empreiteiros e depois, talvez por não ter gostado do resultado, tratou de mandar fazer um terceiro orçamento que, pelos vistos, ainda foi mais elevado. De então para cá, nada mais disseram e continuo a viver com parte do tecto caído e o telhado à vista", contou um morador da Rua 4, que pediu o anonimato por temer que, por falar, o seu processo não avance.
"São milhares de contos de prejuízos e não foi só em casas velhas. O Edifício Progresso, da parte de cima da cidade, que na altura era novo a estrear, também foi afectado. Lá, até vidros foram partidos", acrescentou o morador.
O JN tentou, sem êxito, obter esclarecimentos da Refer. A Câmara de Espinho disse estar a acompanhar a situação, tendo a informação de que foram feitas as devidas participações à companhia de seguros.