Anteontem, segunda-feira, ao saber pelas notícias que o carro e o corpo da neta tinham sido encontrados num precipício da A24, Manuel Catarino sentiu-se mal. "Foi como se tivesse levado um murro no estômago", confessa, olhos presos no chão, como que envergonhado de ter acreditado que voltaria a abraçar a neta com vida.
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"Nunca me tiraram da cabeça que tivesse sido raptada e estivesse presa em qualquer lado. Afinal, estava enganado. A minha menina estava morta, sozinha, aqui tão perto de nós!"...
À porta da barbearia que tem há vários anos à entrada da cidade de Lamego, o avô de Carina, acompanhado pela mulher, Alexandrina Ferreira, tem sido o rosto visível de uma família que durante 37 dias viveu a angústia de não saber o paradeiro da rapariga.
Isabel e Ernesto Ferreira, os pais da jovem, moram perto, no Lote 2 do Largo do Desterro. Vivem solitários o drama da perda.
"Estamos em estado de choque. Ainda tínhamos a secreta esperança de encontrar a nossa filha com vida", desabafava, ontem, a mãe, banhada em lágrimas.
Apesar da mágoa, Manuel Catarino e Alexandrina reconhecem que, a partir de agora, terão um sítio onde mitigar as saudades. "Vamos ter uma campa onde pôr flores e chorar esta morte prematura", desabafam.
Habituado a ter Carina Ferreira todos os dias a almoçar consigo, enchendo o seu lar de alegria - à excepção do tempo em que estudou Turismo em Coimbra -, o avô diz que lhe custa a acreditar num acidente tão estranho.
"Embora andasse de mota e de carro, era uma rapariga muito ajuizada e boa condutora. É claro que os jovens gostam de andar mais depressa - e ela até estava a deslocar-se para uma festa -, mas não acredito que tenha ultrapassado as marcas. Era muito responsável. Aquilo foi qualquer coisa que lhe deu ou lhe apareceu à frente", sustenta o avô.