Mais de 20 mil estudantes desfilaram pelas ruas de Coimbra esta terça-feira, com crítica social e política presente nos 90 carros alegóricos. O primeiro-ministro foi o mais visado, numa festa à qual não escaparam o presidente da República e o ministro das Infraestruturas. É o fim do percurso académico para uma geração que viveu um caminho atípico, provocado pela pandemia de covid-19.
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António Costa, Marcelo Rebelo de Sousa, João Galamba, Eduardo Cabrita e a TAP. Todos foram "presenças" notadas nos carros alegóricos do Cortejo da Queima das Fitas de Coimbra, que saiu às ruas da cidade esta tarde, uma terça-feira, 16 anos depois da última vez que decorreu num dia útil. Os fitados e finalistas do cortejo celebraram assim o final de um percurso atípico, marcado também por dois anos de pandemia.
"Tivemos a covid, que nos privou desta festa, agora temos o cortejo à terça-feira, que percebemos pelo contexto, mas que nos impede de ter cá as nossas famílias", aponta Joana Morais, uma das integrantes do carro "Incesto Jurídico", de Direito. No carro de Joana são elencados alguns casos do atual Governo, como as demissões de Marta Temido ou os problemas na TAP. "Tivemos em atenção os casos e casinhos que foram decorrendo ao longo do ano. Na frente do carro, temos António Costa e João Galamba a dar um beijo", descreve Bernardo Bengala, outro integrante do carro.
Tristes por ausência da família
Mais à frente, Eugénia Oliveira e Maria Inês Costa, do carro de Engenharia Informática, não se mostram satisfeitas pela mudança do dia, motivada pelos concertos dos Coldplay. "Foi péssimo. Percebo que a cidade quisesse evitar mais complicações com os concertos, mas as nossas famílias foram privadas de nos ver", salientam as estudantes do carro "O Python".
Entre as várias críticas políticas e sociais, havia o lamento do carro da Faculdade de Farmácia, com um cartaz a dizer "tantas saídas profissionais e nenhuma com reconhecimento", um de Engenharia Mecânica a falar da TAP com a frase "ninguém TAPa este buraco" e até referências aos casos de abusos sexuais na Igreja e de assédio na Universidade de Coimbra.
Homenagem aos Açores
Um dos carros de Medicina presentes no cortejo tinha uma particularidade: era constituído por estudantes açorianos ou oriundos da Universidade dos Açores, que fazem os primeiros três anos no arquipélago. "Não faltam as referências à ilha, como o cachalote, a nossa bandeira e as vacas. O cachalote do nosso carro simboliza o Serviço Nacional de Saúde e a falta de ajuda que há aos médicos recém-formados", aponta Carina Silveira, oriunda da ilha do Faial e integrante do carro.