Aldeia em Fafe passou a ter nove habitantes há cerca de duas semanas. Pais procuram sossego.
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Na aldeia de Repulo, numa encosta sobranceira à albufeira da barragem de Queimadela, Fafe, entre o granito das poucas casas da aldeia viviam, até 24 de fevereiro, oito pessoas. No dia seguinte, surgiu Eva, a primeira bebé em 56 anos na pequena aldeia da União de Freguesias de Monte/Queimadela.
A menina é fruto da relação de André Cunha, de 34 anos, e Amandine Antunes, de 32. "Achei que era uma mais-valia viver na aldeia. Cresci na natureza, sempre vivi na natureza e sempre quis viver aqui", justificou André, apostado em defender a ideia de que "é importante manter vida nas pequenas terras, ou qualquer dia está tudo no Porto ou Lisboa e o resto do país ao abandono". Amandine, regressada há poucos anos de França, tem uma ligação afetiva com aquele bucólico local das serras de Fafe.
"Esta casa era da minha avó e tenho excelentes recordações. Os meus pais eram emigrantes em França e eu vinha cá passar as férias de verão. Restaurámos e achámos que era o sítio ideal para criar a nossa família de uma forma mais tranquila", disse ao JN. O emprego como arquiteta em Guimarães, a meia hora de viagem de carro, não esmorece o desejo de viver em harmonia com a natureza, "uma vida mais saudável e com mais liberdade. Lembro-me de, em criança, brincar na rua. Havia mais liberdade do que se estivesse num parque na cidade", conta.
Com os restantes habitantes do lugar envelhecidos, André teme que dentro de poucos anos sejam só os três a viver por lá e tudo farão para que Eva se adapte. "Vamos fazer com que não sinta muita diferença em relação aos miúdos da cidade". Amandine pensa na distância de um hospital e no facto de não haver mais crianças para brincar. "Será colmatado com as visitas dos primos e filhos de amigos nossos", assumiu.
Avós babadas
Também felizes estão as avós. Maria Ilda, pelo facto de aquela ter sido a casa onde viveu com os pais e agora viver a neta. "Nas aldeias há mais qualidade de vida", diz.
Odete Cunha, avó paterna, gere uma aldeia turística ali ao lado com o filho e manifesta estranheza pela opção. "Achei estranho que quisessem cá viver, mas como gostam da natureza, aceitei", afirma. Tal como o filho, advoga a presença de mais jovens por estes lugares. "Era importante que as pessoas se fixassem. É bonito, não tem poluição e não estão assim tão longe das cidades", concluiu.
Saiba Mais
O mais velho
Armindo Cunha, 80 anos, é o mais velho em Repulo. "Como não vou morrer já, quero ver esta criança a crescer aqui com saúde", afirmou, ao JN. A última criança que foi viver há 56 anos para Repulo, entretanto fez-se adulto e já morreu.
Ponto de passagem
A aldeia de Repulo é ponto de passagem de rotas de pedestrianismo que circundam a albufeira da Barragem de Queimadela.
Geracional
Eva mora mora agora na casa que outrora foi dos bisavós. A avó também lá viveu e agora são os pais que a ocupam.