Moradores sofrem com infiltrações. Câmara diz que só houve um caso grave e que empreiteiro vai fazer reparações.
Corpo do artigo
Mais de dois milhões de euros foi quanto custou a reabilitação do Bairro do Monte Crasto, em Gondomar. Concluída a empreitada, as fachadas estão novas, mas no interior há infiltrações, fissuras e, quando chove, os patamares "parecem um autêntico rio", denunciam os moradores. Há queixas em vários blocos.
O bairro, com quase 40 anos, tem cerca de 500 moradores distribuídos por 24 blocos. De acordo com a Câmara, sete foram intervencionados em 2013 por 970 mil euros, pelo Executivo presidido por Valentim Loureiro, através de quatro ajustes diretos. Os trabalhos não incluíram a remoção de amianto. As obras dos restantes 17, promovidas pelo atual Executivo, liderado por Marco Martins, foram feitas por concurso público, custaram 1,1 milhões de euros e abrangeram a retirada do amianto, reabilitação de fachadas e arranjos exteriores.
O facto é que, lamentam os residentes, as novas fachadas escondem a "miséria" do interior. Sentem-se "ignorados e desprezados".
"Durante mais de 30 anos, nunca tivemos problemas destes. No inverno a seguir às primeiras obras, até chamámos os bombeiros por causa da quantidade de água que entrava no prédio", contou Manuel Santos, de 65 anos.
As bacias espalhadas pelas casas já fazem parte da decoração. "Quando chove lá fora, chove da mesma forma cá dentro", revela Felicidade Ribeiro. Com 70 anos, já caiu em casa várias vezes devido a inundações. "Uma vez, durante a noite, levantei-me para ir à casa de banho e o chão estava todo molhado. Ando aqui de muletas porque parti a perna dentro de casa", lamenta. "Na cozinha, com a tijoleira solta por causa das infiltrações, já parti o pé", juntou.
vidro substituído
Ao JN, a Câmara admite estar a par de problemas no bairro, mas diz que o caso mais grave aconteceu numa única entrada, no último domingo de chuva (11 de novembro): "No número 65, um vidro da claraboia foi partido". A Autarquia garante, ainda, que nenhum morador reportou a situação e que nesse dia a responsável pela Habitação Social esteve no local. No dia seguinte, o vidro foi substituído.
"Eles dizem que é um vidro. Mas quando volta a chover, é preciso subir e descer as escadas de guarda chuva durante o inverno todo", garante Manuel Santos.
Os moradores garantem que são eles próprios quem repara os estragos provocados pelas infiltrações.
No quarto de Manuel Santos e Felicidade Vasconcelos, a água entra junto à janela. "Uma manhã, levantamo-nos e o quarto estava todo inundado. Já fizemos um "caminho" para direcionar a água para o balde e não voltar a acontecer", explicou o residente. "Fizeram obras na fachada e aquilo que estragaram por dentro, temos de ser nós a arranjar", criticou.
Felicidade Ribeiro não tem possibilidade de fazer o arranjo. "Fui à Câmara por causa da tijoleira partida. Deram-me o material para substituir. Eu não vejo do olho esquerdo e vejo muito mal do direito. Como é que querem que eu faça isso?", lamentou.
reparações
Apesar de os moradores relacionarem os danos nas casas com as obras nas fachadas, a Autarquia garantiu que "não há consequência direta comprovada entre as patologias no interior das habitações e as obras executadas no exterior". Afirma ainda que "a intervenção incluiu fachadas, coberturas, caixas de escada e zonas comuns", e que a única obra interior prevista era a colocação de uma parede em pladur para aumentar o conforto térmico das casas, mas que os moradores recusaram porque reduzia em dois ou três m2 a área da sala.
A Câmara referiu, também, que ao abrigo da garantia o empreiteiro iria proceder a reparações e que os trabalhos deveriam avançar ontem mesmo.