Além dos constrangimentos das obras em curso na Linha do Norte, entre Espinho e Gaia, dois abatimentos da via numa semana, em Francelos, cancelaram e atrasaram dezenas de viagens.
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"Isto é primitivo! Mais parece que estamos no terceiro mundo", comentou ao JN Américo Saraiva, 61 anos, enquanto esperava ontem no apeadeiro de Francelos, Gaia, pelo comboio que o levaria à Estação de S. Bento, no Porto. "Com sorte, as pessoas ainda chegam ao trabalho, mas depois não sabem se vão conseguir regressar a casa." O desabafo do trabalhador da Águas do Porto espelha o tormento diário dos passageiros da Linha do Norte.
As obras no troço Espinho/Gaia têm causado muitos constrangimentos, agravados na última semana por dois aluimentos na zona de Francelos, que originaram atrasos e supressões de dezenas de comboios. As queixas multiplicam-se entre os passageiros.
Sobre o incidente de anteontem, a Infraestruturas de Portugal (IP) explicou ao JN que o abatimento na Linha II de Francelos - Norte, que levou a suspender temporariamente a circulação na via ascendente, "ficou a dever-se a uma rotura numa passagem hidráulica existente no local, que não foi objeto de intervenção no âmbito da empreitada de modernização atualmente em execução". Ainda segundo a IP, "a passagem hidráulica vai ser devidamente reparada, estando já em curso trabalhos preparatórios para esse efeito".
Sem alternativas
"Foi uma situação bastante chata, uma vez que não houve comboio no apeadeiro", referiu João Santos, 22 anos, que "só queria chegar à Estação de General Torres, para depois ir de metro até ao Hospital de S. João".
Sem alternativa para regressar a casa, João teve de "apanhar um Uber". "Não faz sentido, porque é dinheiro que ninguém nos paga", criticou.
Do mesmo se queixa Américo Saraiva: "Pago um passe mensal e, quando acontece um problema, tem de ser o cliente a arranjar uma solução". Além disso, as pessoas não têm um local para se abrigarem no apeadeiro de Francelos, no sentido Aveiro/Porto", criticou. O JN questionou a IP sobre este assunto, mas não obteve qualquer resposta.
Os dois abatimentos deram-se junto ao apeadeiro de Francelos, local que está a ser alvo, há três anos, de obras ao abrigo do programa de investimentos Ferrovia 2020. De acordo com a CP, o abatimento da Linha do Norte ocorrido na semana passada causou 52 supressões de comboios (44 totais e oito parciais) - todas em comboios urbanos do Porto -, e 130 atrasos, que totalizaram 7320 minutos.
Já no início do ano tinha havido um deslizamento de terras na plataforma provisória instalada no apeadeiro da Madalena, fazendo com que, até ao final deste mês, o comboio não pare ali.
Já na Estação de Granja e no apeadeiro da Aguda as passagens aéreas, tão contestadas pela população, continuam fechadas. Os utentes esperam que seja encontrada uma melhor solução para o atravessamento da linha do comboio.