Os familiares do antigo bispo de Lamego D. Américo Couto Oliveira reclamam há 11 anos a herança do clérigo. Em causa, dizem os sobrinhos, estão contas no banco do Vaticano que não foram entregues à família.
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O processo está a ser conduzido pelos sobrinhos, face à morte dos irmãos do bispo. "Tem sido um processo complicado. A diocese não está a ter um comportamento moralmente aceitável", acusa Américo Gomes, um dos sobrinhos (de três famílias) que reivindicam a herança.
A diocese sustenta a sua posição com uma carta manuscrita de 29 de Novembro de 1998 (o clérigo morreu a 2 de Dezembro desse ano) na qual D. Américo deixava os bens ao Seminário de Lamego e a uma casa religiosa. Os sobrinhos alegam que o documento não é legalmente válido.
Quando D. Américo faleceu, conta Joaquim Gomes, os familiares foram chamados a Lamego, ao Paço. "Entregaram-nos o suposto testamento e pediram-nos para assinarmos. Recusámos. As únicas coisas que nos entregaram foram roupas e calçado". A família, diz, levou "algumas recordações", mas nada de objectos de valor, como pratas, cristais e relógios.
Num ofício de 19 de Abril de 1999, o administrador diocesano, monsenhor Eduardo António Russo, entretanto falecido, em resposta à directora dos Serviços de Segurança Social e Relações Laborais do Centro Nacional de Pensões, refere: "Nem a diocese nem eu pessoalmente fomos constituídos herdeiros do Sr. D. Américo que, de resto, morreu inesperadamente". Mais adiante, acrescenta que "os herdeiros naturais são a família".
"Recebemos seguros para pagar, notas da Segurança Social por causa de reembolsos de dinheiro pago após a morte do nosso tio. Para pagar, fomos considerados herdeiros naturais; para as receitas, não fomos considerados para nada", contrapõe o familiar. No documento que a diocese considera como disposição testamental de D. Américo, este aponta como herdeiros os sobrinhos e a diocese, à qual atribui a conta bancária no Istitute per Opere Religiosi do Vaticano (cerca de 150 mil euros, diz Gomes) "para empregar na preparação de professores para a Faculdade de Teologia do Seminário Maior diocesano". Outras duas contas no mesmo banco, em dólares norte-americanos, para a casa de formação sacerdotal de S. José. "Esse documento não é válido e além disso, nenhum herdeiro natural o assinou", contrapõe Américo Gomes. Os familiares do clérigo dizem que já tentaram um acordo com a diocese, mas alegam que esta se tem mantido irredutível. "Se assim é", garante Américo Gomes, "vamos avançar para Tribunal".