A menina de sete anos que anteontem morreu num acidente, em Nogueira do Cravo (Oliveira de Azeméis), ia com os pais numa mota para um convívio. O pai pode ficar numa cadeira de rodas. A mãe está estabilizada. A família está em choque com a tragédia.
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Manuel da Silva Costa e a mulher não têm forças para largar a última recordação que têm da sobrinha: um desenho que Jessica Filipa da Silva Soares, de sete anos, fez na escola para oferecer à tia por causa do Dia da Mãe. Foi descoberto, já de madrugada, no bolso do casaco do pai, algumas horas depois do acidente que vitimou a menina.
"Era um amor, uma flor. Tinha um cabelo tão lindo!", repete a tia, entre soluços. Ao lado, o presidente da Junta de Nogueira do Cravo, que descobriu o desenho, tenta dar o conforto possível. "Podem encaixilhar", sugere Manuel Rebelo, também abalado.
Em relação aos pais da menina, que estão internados no Hospital de S. Sebastião, em Santa Maria da Feira, o presidente da Junta sublinha: "São boa gente. Pessoas humildes mas bem vistas". Maria Ascensão da Silva Bernardo, de 43 anos, natural de Nogueira do Cravo, sofreu um traumatismo cervical e fracturou três costelas. José António Soares Pinto, de 43 anos, natural de Pindelo, sofreu várias hemorragias internas e partiu a bacia em dois lugares. É, de resto, quem inspira mais cuidados.
"Vi logo que não se safava"
Já era habitual Jessica andar na mota com os pais, que moram em S. João da Madeira e têm mais dois filhos: uma rapariga, de 20 anos, e um rapaz, de 23 anos. Mas a menina sempre passou mais tempo com a família materna, em Nogueira do Cravo (Oliveira de Azeméis), onde frequentava o primeiro ano. "Estava farto de dizer ao Zé António para tirar a carta de condução, que comprava-lhe um automóvel, mas ele não queria", lamenta Manuel Costa.
Na noite de sábado, Maria, José e Jessica foram de mota, como era hábito, para Nogueira do Cravo. Queriam participar num convívio em Monte Belo, destinado a angariar fundos para a festa local. Foi na Avenida dos Descobrimentos (ler caixa) que, às 21.35 horas, a tragédia aconteceu.
Manuel foi dos primeiros a chegarem ao local. "Foi um amigo que estava no convívio que veio avisar. Vi tudo. A menina esteve 45 minutos a ser reanimada. Os pais estavam conscientes e aperceberam-se de tudo", descreve.
Tio deu soco num automóvel
Em poucos minutos, cerca de 50 familiares juntaram-se no local do acidente. "Foi uma confusão muito grande entre a família e o rapaz que ia a conduzir o carro que embateu na mota", conta o presidente da Junta, desabafando "uma mágoa muito grande": "O INEM devia levar um psicólogo para, nestas situações, ajudar a família".
Após muito esforço, o autarca conseguiu que um profissional falasse com a família por telefone. "Ficaram mais acomodados", descreve. Mesmo assim, um tio da menina, com o desespero, ainda deu um soco num carro e acabou por ter de levar seis pontos.
Perante o clima de consternação e revolta, os Bombeiros Voluntários de Fajões resolveram tomar precauções. Mandaram o condutor tirar o colete reflector e quando, à uma da manhã, o corpo da menina foi levantado, levaram-no directamente para a capela mortuária do Hospital da Feira para evitar passar pelas dezenas de familiares que estavam à porta da "Urgência".