Rosa costura dezenas por dia. Era só para a família mas agora na vila todos as querem para se protegerem da pandemia.
Corpo do artigo
É da máquina de costura de Rosa Mendes que sai uma grande parte das máscaras que a população da vila de Moreira de Cónegos, em Guimarães, está a usar para sair à rua. Conhecida por "Chiquita", a mulher de 84 anos começou há duas semanas a fazer máscaras e são muitos os pedidos aos quais dá resposta, na medida do que pode e do que a máquina de costura lhe permite.
As máscaras de tecido são feitas à mão e todas oferecidas. Faz dezenas por dia, quase sempre à tarde, para ajudar o povo e porque o serviço a ajuda a passar o tempo. "Se fosse uma máquina mais moderna fazia isto mais perfeito, mas ela é velhinha como eu", diz, entre risos.
Sentada numa marquise, os dias de isolamento de Rosa têm sido na companhia de um Jesus Cristo de 20 centímetros pendurado na parede atrás dela e de uma pequena imagem de Fátima junto a uma vela, em frente. São eles e a pequena Singer preta que por estes dias não tem tido descanso.
A língua de Rosa solta-se-lhe à medida que a roleta da máquina de costura dá voltas rápidas e a agulha penetra repetidamente no pedaço de tecido. "Às vezes faço e tenho de alagar, para ficar bem. Gosto que fique bem, mas não levo um tostão a ninguém", realça, de dedo apontado para a máscara quase pronta.
12117783
O passatempo que está a ajudar a vila de Moreira de Cónegos, com cerca de 5000 habitantes, começou quando um dos filhos de Rosa lhe ligou, de Cascais, a perguntar se estava tudo bem. No meio da conversa, o filho disse-lhe que só saía de casa para passear o cão e que não levava máscara por serem caras. "Eu fui para a cama a pensar que decerto sabia fazer aquilo", recorda a matriarca.
No dia seguinte, pegou em dois modelos e começou a esquematizar até conseguir. Depois da família ofereceu a vizinhos, amigos e agora todos lhe pedem. "Comecei a fazer e aqui ando", constata, enquanto dá os últimos pontos na máscara vermelha alusiva ao 25 de abril.
FAZIA ROUPA DOS FILHOS
Apesar da técnica apurada, a arte da costura não era o ofício de Rosa. Trabalhou a vida toda nos teares de uma fábrica têxtil e só quando se reformou é que comprou a máquina para fazer roupa para os filhos. "Como tinha muitos filhos era eu que fazia a roupa. Uma senhora que morava por baixo da minha casa que era costureira é que me ajudava", lembra.
Quando os filhos já não precisavam de roupa, passou a fazer sacas e aventais, entre eles o cinzento que traz vestido e que ninguém adivinharia que foi feito à mão. Agora, com a pandemia, a vila agradece a "Chiquita", autodidata combatente contra a Covid-19. O filho de Cascais também agradecerá, não pelas máscaras, mas pelo amor que a mãe lhe tem.
12091587
Teve 14 filhos e é tia de craque da seleção
Rosa Mendes, viúva, é a única mulher entre seis irmãos, da família Mendes, da vila de Moreira de Cónegos. "Chiquita" foi a alcunha que lhe deram quando era muito nova, pela beleza e cuidado com que se apresentava. É também tia do futebolista Pedro Mendes (na foto), antigo craque da seleção nacional, do Vitória de Guimarães, F. C. Porto, Sporting e Tottenham. Um dos filhos, António Brás, é atualmente o presidente da Junta de Freguesia. O marido de Rosa também foi autarca, no caso o primeiro presidente da Junta local após o 25 de Abril. "Tenho 11 filhos. O Nosso Senhor deu-me 14, levou-me dois e um nasceu morto", recorda, antes de um silêncio condolente.
Várias cores
As máscaras de Rosa são de várias cores. Já fez uma do Moreirense para o filho que é da claque, outra do Vitória de Guimarães para um sobrinho e prepara já uma com a bandeira nacional.
Mesmo formato
O formato das máscaras de Rosa é retangular, com cerca de 20 centímetros de comprimento e cerca de 10 de largura, de tamanho semelhante às máscaras cirúrgicas habituais, só que de tecido.