População de Cepelos queixa-se que políticos nada fazem para que haja abastecimento.
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Passados 141 anos, o fontanário público do lugar de Gatão, inaugurado em 1882 na freguesia de Cepelos, Vale de Cambra, de pouco mais serve do que marco histórico e local de recolha esporádica. Nem todos arriscam beber daquela bica que ostenta uma placa com o aviso: "Água não controlada". Quase século e meio depois, o abastecimento pouco mudou naquelas paragens, uma vez que não há abastecimento público na freguesia.
Nas últimas décadas, contudo, a água passou a jorrar nas torneiras e é possível, com alguns constrangimentos, tomar banho de chuveiro e usar máquina de lavar roupa. "Luxos" que só se tornaram possíveis para os habitantes de Gatão e de outros lugares graças ao investimento que a própria população teima em fazer perante o que diz ser a "indiferença" dos poderes públicos.
Investem em furos artesianos e em captações de água nos montes, cuja água segue através de tubos que chegam a ter cinco quilómetros de cumprimento até às casas.
"Tenho um furo em minha casa, mas há pessoas que não podem gastar dois mil ou três mil euros para fazerem um. Esse dinheiro dava para pagar a água da companhia durante muito tempo e havia mais qualidade no abastecimento", afirmou Hermínio Almeida, um dos habitantes.
A alternativa aos furos passa pela captação em zonas altas de monte, onde a água é recolhida de poços com pouca profundidade, sem necessidade de energia, elétrica e desce em direção às habitações por tubos de muitas centenas de metros.
Hermínio diz que "há pessoas que vão buscar a água a mais de dois ou três mil metros", com os tubos a atravessarem zonas de mato, pinhal, escarpas, carreiros e estradas. Mas esta não é uma forma eficaz de abastecimento. "Quando há incêndios, queimam-se os tubos todos" e as captações ficam poluídas. "É um prejuízo muito grande". Também em época de seca, a água falha sem aviso prévio e é necessário subir novamente aos montes e procurar poços alternativos.
"Faz muita diferença não ter abastecimento público de água. O problema maior é no verão, quando começa a falhar", confirma Ana Almeida, filha de Hermínio Almeida. Na sua casa, há máquina de lavar roupa, mas em algumas ocasiões "o caudal não é suficiente para a usar".
Não muito longe de Gatão, ainda em Cepelos, os lamentos sucedem-se. "Não nos abastecem com a rede pública e, pior, nem sequer nos ajudam com o custo das análises das nossas águas. Pelo menos essa ajuda podia muito bem ser dada", afirmava um munícipe, que pediu o anonimato. O mesmo habitante recordou que, quando se queimaram os condutores, chegou a ser promovido um abaixo assinado para sensibilizar as autoridades. "Mas não tivemos qualquer resultado. Estamos esquecidos."