Quando em 18 de dezembro de 2017 um incêndio provocado por um curto-circuito destruiu por dentro a igreja de Lavradas, em Ponte da Barca, o bispo da diocese de Viana do Castelo apelou à generosidade do povo para se reconstruir o templo.
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A população, as paróquias ao redor e as comunidades de emigrantes espalhadas pelo Mundo mobilizaram-se. Hoje os donativos atingem quase 400 mil euros, mas a obra não há maneira de sair do papel. E como se não chegasse a burocracia, não há um entendimento quanto ao projeto.
Em vez da simples reconstrução, a diocese aprovou a construção de uma igreja nova ao lado da velha. E a polémica estalou, porque há quem acuse a Igreja de "enganar" o povo. Entretanto, o projeto do templo novo está encravado na Câmara de Ponte da Barca há meio ano. Há dias, em vésperas do Natal, alguém pintou a negro nas paredes da igreja a palavra "vergonha".
"Preocupa-me o que está por trás disto. O povo quer o que lhe prometeram: a reconstrução da igreja. Foi assumido pelo bispo e pelo próprio padre. As pessoas sentem-se enganadas porque nunca se falou em construir uma igreja nova", diz o presidente da Junta de Lavradas, André Fernandes. "Eu fui ao Canadá pedir aos emigrantes, explicando que tínhamos perdido tudo, e trouxe de lá 50 mil euros. O slogan era: vamos reconstruir a nossa igreja".
O salão da Junta serve atualmente para realização de missas, batizados e funerais, e o autarca avisa que "a situação não pode continuar". Por considerar a igreja um "lugar sagrado", André batizou a filha entre as paredes negras do fogo.
Não um, mas três projetos
Rafael Freitas, arquiteto natural de Lavradas, ofereceu-se, depois do incêndio, para ajudar a custo zero. Em vez de um projeto, desenhou três: a reconstrução simples da igreja (375 mil euros), a obra com uma ampliação (525 mil) e a construção de um templo novo, demolindo a casa paroquial e convertendo as ruínas da velha em espaço museológico (600 mil euros). Vingou o mais caro.
O pároco de Lavradas, Filipe Sá, e o bispo D. Anacleto Oliveira remetem-se ao silêncio. Fonte do Secretariado Diocesano para a Comunicação Social esclareceu ao JN que o avanço da obra "não depende da diocese".
O autarca de Ponte da Barca, Augusto Marinho, não concretiza uma posição sobre a licença administrativa da obra. Informa que o projeto "referente ao pedido de licenciamento para alteração e reconstrução" da igreja de Lavradas deu entrada em 26 de abril e que "foi necessário recolher parecer prévio da Direção Regional de Cultura do Norte, sendo este de caráter vinculativo". Diz que "a complexidade e dimensão dos trabalhos propostos no projeto implicam uma análise mais cuidada". Acrescenta que "se verifica a forte possibilidade de existência de vestígios arqueológicos, nomeadamente sepulturas no interior e envolvente da igreja". E que "a análise técnica dos serviços foi concluída, encontrando-se neste momento em processo de comunicação ao requerente [Fábrica da Igreja].
A informação, ao que o JN apurou, ainda não chegou ao destino.