Corticeira da Feira acusa trabalhador de furto. Operário contesta e enfrenta dificuldades. Caso está a ser tratado em tribunal.
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Foi buscar máscaras para se proteger a ele e aos colegas e acabou despedido. A empresa - corticeira Socori, em Rio Meão, na Feira - não concordou com esta versão e acusou o operário de furto, avançando com o despedimento por justa causa. O trabalhador assegura que as máscaras foram para usar na empresa, numa altura em que se vivia o pico da pandemia e não estariam a ser fornecidas em número suficiente. Fonte da Socori disse, ao JN, que o caso está a ser tratado em tribunal.
José Maciel, funcionário da Socori há 17 anos, não consegue conter a indignação. Cumpridas quase duas décadas de trabalho na empresa, é confrontado com um despedimento "compulsivo". Acusado de furto de máscaras que diz ter ido buscar ao armazém para se proteger a ele e aos colegas.
"A empresa começou por dar uma máscara de quatro em quatro semanas e depois passou a dar uma máscara uma vez por semana. Não era suficiente", afirma.
Responsável pela manutenção de vários equipamentos, recorda que a sua máscara "estava toda suja e cheia de partículas de ferro". "Andava a soldar uma máquina com os meus colegas a cerca de 20 centímetros de distância. O receio de que fôssemos infetados era muito grande", explica. José afirma que, "num instinto de sobrevivência", foi ao armazém. "Peguei numa caixa e, quando cheguei ao lugar onde trabalhava, tinha poucas máscaras. Fui, por isso, buscar uma segunda caixa para poder usar e depois distribuir pelos meus colegas", conta.
Em dificuldades
José refere que, após a retirada da segunda caixa, "veio um responsável dizer que tinha que devolver as máscaras". "O que fiz prontamente, pedindo desculpas. Nem abri a segunda caixa". Mas o caso não ficou por ali: "Exigiram que assinasse uma carta em que me despedia por iniciativa própria. Se não aceitasse, eles despediam-me, como acabaram por fazer".
O trabalhador foi de imediato suspenso, em abril, sendo alvo de um processo disciplinar que culminou com o despedimento a 15 de maio, por furto. "Fui tratado abaixo de cão. Com uma frieza incrível, pondo em causa a minha dignidade", afirma. Diz estar a passar por uma depressão e sem saber como vai fazer frente às necessidades do dia a dia. "Tenho um filho de cinco anos para criar e uma casa para pagar. Trabalho desde os meus 14 anos e nunca tive problemas nas empresas", garantiu.
Para o advogado do Sindicato dos Operários Corticeiros do Norte, Filipe Soares Pereira, é um despedimento "abusivo". "O trabalhador pretendeu fazer valer os seus diretos no que respeita à higiene e segurança no trabalho", justificou, acrescentando que a atitude de José deveu-se à atribuição de máscaras insuficientes, "contrariando as orientações da Direção-Geral da Saúde (DGS)".
Empresa explica
Contactada pelo JN, fonte da empresa justifica que a Socori "foi implementando as recomendações da DGS que foram evoluindo de acordo com a pandemia". Lembra que, "mesmo na questão relacionada com uso das máscaras, foi havendo posições diferentes ao longo do tempo". "Desde o início da pandemia que a Socori adquiriu máscaras, pois temos como hábito a sua utilização em áreas críticas da empresa", acrescentou.
Em relação ao despedimento do trabalhador, disse que "a situação tem a ver com o furto de máscaras, estando o assunto em tribunal".