A vida cresceu-lhes pelas ruelas da Foz Velha. Viram-na desfalecer. Viram roubar-lhe o elétrico. E criaram um movimento que há de ser associação para trazer gente de volta. Porque a Foz não morreu.
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Chamaram-lhe Bairro Vivo, em contraste com a apelidação carregada de passado. É a Foz Velha, que há dias viu reconhecer-lhe o estatuto de conjunto de interesse público, com o argumento de que é, ainda, um exemplo de cidade humanizada, em que os gatos dormem ao sol nas soleiras e as crianças caminham pela rua. E é precisamente essa imagem que Diogo Baldaque e Francisco Rodrigues querem passar para o Mundo. Essa e a de que não, a Foz não é um sítio de ricos.
Juntaram-se e foram batendo às portas de outros comerciantes, dispostos a divulgar-se. O veículo escolhido, barato e ao alcance de quase todos, foi o facebook. A página "Foz Velha Bairro Vivo" já leva quase dois mil "gostos" em três meses. Há de dar associação, fazer-se coisa séria. "Mais cedo ou mais tarde, isto vai custar dinheiro", admite Diogo, disposto a dar o corpo ao manifesto "por amor à causa".
Mas o que se passou com a Foz Velha, afinal? Era zona de comércio diferente, era zona balnear, era o paraíso da burguesia. Aconteceu, antes de mais, a reordenação dos transportes: o elétrico que corria até ao Castelo do Queijo fugiu. Quando voltou, parou na Cantareira. E com ele os turistas. "Diz-se que compraram trilhos para continuar, mas que estão guardados num armazém em Francos".
Depois, aconteceu a revitalização do centro da cidade, cada vez mais apelativa no que toca a lojas, restaurantes, noite. Por fim, aconteceu a desertificação. Porque a Foz encareceu e os filhos das famílias remediadas não têm como ficar. Porque o centro era "longe". Até que tudo foi ficando nebuloso na mente dos forasteiros. A Foz Velha? É a confeitaria Tavi e os Morgados e restaurantes com prato do dia, pouco mais.
"Mentira". Crescem propostas alternativas, o sushi, as tabernas, a joalharia, os espaços de coworking, o Bazar da Cerca que junta chouriço a gomas suecas, vestidos e sabonete natural. Mas não é só isso: a Foz é o património. Os dois amigos esforçam-se por lhe devolver vida. Já pediram ao pároco para pensar em fazer missas deslocalizadas na capela de Santa Anastácia. E tentaram, debalde, que a Junta de Freguesia lhes autorizasse um S. João de bairro na devoluta Escola dos Rapazes. Tentarão outras coisas.