O som da gaita pelas ruas do Porto anunciava a chegada do amolador. Na família de André Fernandes, a profissão já vai na terceira geração. Tem 31 anos e, ao contrário do pai e do avô, não anda porta a porta a afiar facas ou tesouras. Estabeleceu-se no mercado do Bolhão.
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O ofício em desuso está eternizado nas páginas do "Porto, profissões (quase) desaparecidas", o mais recente livro de Germano Silva, apresentado esta sexta-feira, pelas 17 horas, na Praça de Gomes Teixeira (Leões), em frente à Reitoria da Universidade do Porto. Uma hora antes, haverá pregões e danças pelo Rancho Folclórico do Porto.
Entre carquejeiras, marceneiros, ardinas e criadas de servir, contam-se ainda curiosidades de profissões como a de Arménio Matos. Sentado nos Aliados, engraxa sapatos há mais de quatro décadas. O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, foi seu cliente por duas vezes. Já António Saldanha veste as cidades por medida. É alfaiate em Gaia.
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Capital do trabalho
"O Porto é a capital do trabalho e este livro é uma homenagem a essa gente. Há um ditado que diz: Lisboa diverte-se, Braga reza, Coimbra estuda e o Porto trabalha. Foi sempre assim", diz Germano Silva.
A inspiração surgiu nos seus passeios históricos. Algumas adotaram o nome dos ofícios que, antigamente, conferiam uma dinâmica diferente ao Porto. As ruas dos Caldeireiros e dos Canastreiros são exemplos.
"Era uma cidade mais intimista que acordava muito cedo com os silvos das fábricas a chamar os operários para o trabalho. Era vulgar as pessoas andarem pelas ruas porque não havia supermercado. Nas ruas não havia o ruído que hoje há. Ouvia-se, no interior das casas, o tinir das porcelanas do pequeno-almoço", contou, admitindo que uma das profissões que lhe deixa mais saudades é a do tipógrafo.
Repleto de fotografias e gravuras, o livro exalta também a figura do sinaleiro. O Porto foi a primeira cidade portuguesa a criar o serviço de regularização de trânsito, em novembro de 1921. "Chamavam-lhes os cabeças de giz porque andavam com capacete branco. No Natal, as pessoas davam-lhes prendas", revelou.
Esquecido no tempo ficou ainda o ofício de apanha malhas, a arte de remendar meias de vidro. "Hoje, deitam-se fora. Antigamente, como era o princípio da fibra, eram caras", lembrou Germano Silva.