Enquanto no recinto da escola primária, exorcistas, videntes, cartomantes, especialistas em defumadouros, massagistas… captavam clientes, distribuindo cartões, na mesa em cima do palco da Casa do Povo, no edifício contíguo à escola, Delfim da Silva Monteiro, de Paredes, Sabrosa, falava do seu dom de "tirar dores" através de pedidos à Senhora de Fátima. No fundo da sala, um ouvinte não gostou, porque acima de qualquer nossa senhora está o "Espírito Santo". O moderador avisa-o que tem que respeitar a opinião das outras pessoas.
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Na plateia, outro ouvinte aproxima-se, quer receitas para a psoríase. Vários oradores dão a sua opinião. Delfim levanta-se, despede-se dos colegas e desce do palco. Desde aí até à porta, distribui cartões, a pedido das pessoas.
Uma mulher aguarda impaciente por ser consultada. "Estou aflita", diz. Mas pelo caminho até ao exterior, Delfim ainda pára para atender uma chamada. "Estou em Vilar de Perdizes. Mas só vou sair agora. Se for lá hoje à noite, amanhã está bom", diz ao interlocutor. O JN interpela-o. Delfim exemplifica o seu dom. Pede a uma pessoa do grupo que o rodeia para tirar a t-shirt. Estende-a num corrimão. Pede ao dono que ponha o polegar num dos extremos. A partir daí mede três palmos. E assinala a marca com um dedo. Passa a outra mão pela camisola e volta a medir os três palmos. Há uma diferença na medida. Reza. Volta a medir, volta a rezar. "Está a ver, é assim, mas tem que ser lá ao pé da minha senhora da saúde", diz seguindo, por fim, a senhora aflita. E cura todas as dores? Quer saber o JN. Uma mulher que o acompanha responde. "Todas não, mas por exemplo de cabeça, de costas, de estômago….".
No recinto da escola primária, um italiano a residir em Oeiras, Franky, lê as mãos. Joana entra com a mãe. O cientista espiritual diz-lhe que tem uma pessoa a protegê-la, uma avó; que não lhe vai faltar nada na vida. "Não digo que lhe vai sair a lotaria, mas…". Depois pede a Joana que retire cinco cartas de um baralho e diz-lhe que é a partir delas que vai saber como vai ser a sua vida nos próximos seis meses. Na análise volta a repetir que tem alguém a protegê-la e diz-lhe que tenha cuidados com uma amiga.
"Agora pergunte o que quiser!". Joana quer saber se vai entrar em mestrado. "Não vai ser fácil", responde-lhe Franky. No fim, Joana pagou 20 euros. Mas no Congresso de Medicina Popular, que termina hoje em Vilar de Perdizes, pode conhecer sorte por apenas um euro, retirando um papelinho enrolado. Mas porque como diz o ditado o barato sai caro, arrisca-se a que na rifa lhe saia uma banalidade como esta: "Siga seus instintos, conseguirá seus objectivos!!! Sem luta nada se consegue…".
Os locais aproveitam para vender pão, chás de ervas do campo, licores e, este ano, até crepes e queijadinhas.
