Adérito Tavares foi uma das primeiras pessoas a tentar salvar o casal que morreu afogado no mar, em Cortegaça. Vítimas eram de Esmoriz e tinham ido dar um passeio.
Corpo do artigo
"Ajude-me, ajude-me", suplicou Manuel Fardilha, ao mesmo tempo que era arrastado para o mar revoltoso, para um destino fatídico. Ele e a mulher, Fernanda Barata, acabariam, instantes depois, por morrer afogados, ao final da manhã de anteontem, numa zona não vigiada de costa, em Cortegaça, Ovar.
As últimas palavras de Manuel ainda estão bem gravadas na mente de Adérito Tavares, o homem que passava por perto e não hesitou em tentar ajudar a salvar o casal que, anteontem, escolheu aquele local para um passeio à beira-mar. "Ele ainda me pediu ajuda, ainda o agarrei, mas não consegui salvá-lo", recorda Adérito, autor de um ato generoso e arriscado.
https://d23t0mtz3kds72.cloudfront.net/2019/08/entrevistaaderitoquetentousalvarcasalafogadoemovar_salomao_29agosto2019_20190829150833/hls/video.m3u8
Natural de Rio Meão, Feira, conta que quando chegou ao local, alertado pelos gritos de uma mulher, Ana Cristina Sousa, que foi pedir ajuda numa praia próxima, estava já um nadador-salvador "com o homem nos braços", em pleno mar, muito perto da rampa de acesso.
"Entrei junto da água e ainda consegui ajudar a segurar a vítima, que tentei arrastar pela rampa. Mas não consegui. Era muito inclinada e tinha lodo. Segundos depois, veio uma onda e arrastou-nos aos três. Fomos contra as rochas e separamo-nos", recorda.
Com muito esforço, Adérito saiu da água pela rampa. "Não foi só a minha força, foi também com a ajuda de Deus", diz. Nessa altura, conta, já não havia sinais de Fernanda, desaparecida entre as águas revoltosas. "O corpo da senhora não era visível em parte nenhuma", garantiu o homem de Rio Meão. Só mais tarde foi avistado por entre as rochas da defesa marítima.
Adérito Tavares sofreu algumas escoriações e foi transportado ao Hospital S. Sebastião, na Feira. Dois nadadores-salvadores também ficaram feridos.
Um dia depois, no mesmo local do afogamento, Adérito deixou um apelo. "As autoridades competentes têm que colocar sinalização nesta rampa ou uma barreira que impeça o acesso ao mar. Assim como está, este local é um convite a uma tragédia", disse.
A notícia da morte do casal de Esmoriz deixou a vizinhança estupefacta. "Ainda me custa a acreditar no que aconteceu. Eles iam com muita frequência dar passeios até junto ao mar e não entendo como foram cair à água", dizia uma vizinha. "Costumavam ir a pé, mas ontem foram de carro, porque tinham ido às compras", explicou.
Os funerais realizam-se esta sexta-feira, pelas 10.30 horas, na capela da Penha, em Esmoriz.
A Capitania do Porto do Douro anunciou a abertura de um inquérito.
Colocação de sinalização na rampa
A Câmara de Ovar equaciona a possibilidade de colocar sinalização que alerte para o perigo do acesso à rampa com ligação para o mar, onde ocorreu anteontem o duplo afogamento. O presidente da Autarquia, Salvador Malheiro, ressalva, contudo, que o local é da jurisdição da Capitania do Porto do Douro. "Não ficamos indiferentes à tragédia e vamos aferir da pertinência de tomada de medidas preventivas".