<p>António Cunha, que matou a tiro, domingo passado, antes da abertura das eleições autárquicas, o marido da candidata do PSD à Junta de Freguesia de Ermelo, Mondim de Basto, aguardará julgamento na cadeia.</p>
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O alegado homicida, também ex-candidato do PS à mesma Junta, andou fugido desde que, mal a aurora se anunciara para o domingo de eleições autárquicas, em Fervença, freguesia de Ermelo, assassinou Maximino Clemente com um tiro de caçadeira, em plena assembleia de voto. Anteontem, entregou-se voluntariamente na delegação da Polícia Judiciária de Braga e, ontem, às nove horas, entrava no Tribunal de Mondim de Basto para ser presente em primeiro interrogatório judicial. Porém, duas horas antes, às sete, já todos os acessos ao tribunal estavam cortados por um forte aparato de segurança, montado pelo Comando da GNR de Vila Real e reforço do primeiro pelotão do Destacamento de Intervenção da GNR do Porto. Ao todo, 50 militares armados.
Tal não passou despercebido aos moradores de Mondim de Basto. Aos poucos, a quem outras obrigações não reclamavam tempo, foi-se juntando junto às barreiras metálicas até a plateia perfazer um número próximo da centena. Às dez horas, chegou o juiz para interrogar António Cunha e, logo a seguir, a família de Maximino Clemente, com a viúva Maria da Glória Nunes. Não faltou quem se juntasse à sua dor, estampada nos rostos, com apresentação de condolências e manifestações de solidariedade.
Uma palavra dominou as conversas: "Medo". O alegado culpado da morte de Maximino Clemente está preso, é certo, mas a família garante que tem "amigos perigosos" na aldeia, que deverão continuar as alegadas ameaças aos apoiantes de Maria da Glória, actual presidente da Junta de Ermelo e que se recandidata ao cargo pelo PSD. "São uns assassinos. Há um que teve um senhor morto com uma foice e outro com um martelo. Está tudo em tribunal", sublinhava a autarca.
Como um ombro amigo da família, Leonídia Costa denunciava ali mesmo, na praça pública, que também tem "medo". Que, na madrugada do passado dia 11, sofreu ameaças de António Cunha e dos seus amigos. "Foram a minha casa afrontar-me, a mim e aos meus filhos. Que se fossemos votar seríamos mortos. Nós, o tio Maximino e a tia Glória". Embargou-se-lhe a voz e não conseguiu dizer mais.
Em Ermelo, "criou-se um vazio", chorava António Clemente, um dos seis filhos da vítima. Revoltado: "Isto não se faz a ninguém. Parece que vivemos num país do terceiro mundo". Também está descontente com as autoridades. "Nem um psicólogo disponibilizaram a esta família, depois de ter visto matar uma pessoa a sangue frio como quem mata um coelho", acrescentou, lembrando que o pai, militar da GNR aposentado, com 57 anos, tinha armas em casa mas "nunca andava armado", mesmo sabendo dos alegados perigos que corria. As desavenças entre as partes eram antigas e, segundo Maria da Glória, tinham como origem a política e a gestão de baldios.
E de novo a palavra "medo". "Enquanto não forem presas mais duas ou três pessoas de Ermelo nós não dormimos descansados", atirou António. "Essas pessoas deviam estar lá dentro como está aquele [António Cunha]", completava o irmão da vítima, Ângelo Queirós Clemente, aduzindo que "a Judiciária devia ir a casa deles e revistar tudo".
Os ânimos aqueciam à medida que o dia corria. Cerca da uma e um quarto da tarde, após duas horas e meia de interrogatório, António Cunha apareceu durante os breves segundos que levou a percorrer dez metros entre a porta do tribunal e a carrinha celular da GNR que o transportou para a cadeia de Vila Real, onde aguardará julgamento em prisão preventiva. Ainda terá ouvido a gritaria, em coro: "Assassino, bandido, ladrão..."