Na conserveira "A Poveira", os funcionários juntam-se para cultivar a terra. Combatem stress, reforçam espírito de equipa e há mais alegria no trabalho.
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"É um momento de relaxar, rir, conversar e estar em contacto com a natureza, mas também é compromisso, comunicação, trabalho em equipa, ecologia", conta Carla Veloso, olhando, nas sete "camas", as plantas já a crescer. As alfaces estarão prontas em três semanas. Depois, haverá salsa, cebola, couve, curgete, tomate, alho francês e tudo mais que se quiser. É a nova horta da fábrica de conservas "A Poveira", na Póvoa de Varzim. E, todos os dias, os funcionários tiram um tempinho ao trabalho para pôr as mãos na terra. Os "seus" legumes vão diretos para a sopa que, todos os dias, é servida na cantina.
"Cada equipa responsabiliza-se pela sua "cama" e há até uma certa competição saudável entre equipas", explica Pedro Rocha, da Noocity, a empresa que está a ajudar "A Poveira" na implementação do projeto "Liga-te à Terra".
Quinze dias depois do arranque, das largas dezenas de pés plantados, apenas dois não vingaram. "Excelente!", diz o formador. O grupo - cerca de 30 - está empenhado: há escalas de serviço para regar - de manhã e ao fim do dia -, todos os dias é preciso ir ver, guiar, tirar folhas velhas e arrancar ervas daninhas. Aproveita-se para uma pausa, um contacto com a natureza. De três em três semanas, reúnem-se todos: fazem pequenos jogos, conversam, avaliam o trabalho, semeiam, podam e, indiretamente, treinam o foco, fortalecem o espírito de equipa, trabalham a comunicação, a partilha, as questões da sustentabilidade e do bem-estar.
"É maravilhoso!", garante Carla Veloso, responsável pelos Recursos Humanos, de quem partiu a ideia. O administrador executivo, António Cunha, foi "um dos grandes entusiastas" e também ele tem a sua "cama". "Queremos que as hortas sejam mais um símbolo visível do nosso compromisso com a sustentabilidade e com o bem-estar dos colaboradores", frisa.
Plantados os primeiros legumes, já se semearam novas culturas. Flores comestíveis, pepino, beterraba, rabanetes, mostarda. Dentro de algumas semanas chegarão as minhocas que, na pequena casa, no centro de cada canteiro, irão fazer compostagem: "Irão ser alimentadas com os restos [da cantina da fábrica] e irão ajudar a adubar os canteiros. Uma verdadeira economia circular", explica Pedro Rocha, que espera ainda que cada funcionário possa levar o "bichinho" da agricultura para casa e tornar-se mais autossustentável.
Por agora, o "Liga-te à Terra" arrancou com três dezenas de trabalhadores dos escritórios, mas a ideia é, muito em breve, alargá-lo a toda a fábrica. Fundada em 1938, "A Poveira" foi, em 2019, vendida aos espanhóis do grupo Frinsa, líder ibérico no setor das conservas. Desde então, a conserveira não parou de crescer. Conta, atualmente, com 450 funcionários.
"Já temos gente do fabrico a querer participar", conta Carla, satisfeita por ver o "entusiasmo" com que todos se têm envolvido no projeto. E pelas gargalhadas que se ouvem durante a "pausa da horta" percebe-se que, pelo menos, no campo da "alegria no trabalho", o "Liga-te à Terra" é já uma aposta ganha.