As obras começaram no início deste mês e o cascalho espalhado pelas instalações das antigas urgências do Hospital de Valongo, tutelado pelo Centro Hospitalar de S. João, anuncia a criação do novo serviço: a primeira unidade pública de diálise do Serviço Nacional de Saúde. A empreitada, orçada em cerca de 600 mil euros, deve ficar pronta em abril, permitindo receber 28 doentes em simultâneo.
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Os tratamentos serão ministrados em três salas distintas, uma com capacidade para acolher 20 pessoas, outra para quatro utentes infetados - com HIV ou hepatites -, e a última para realizar diálise peritonial. Para já, decorrem os trabalhos de preparação do amplo espaço. Quem aguarda uma consulta na sala de espera não advinha a construção por trás da porta que dá acesso às instalações.
"Atualmente, os hospitais têm centros de diálise mas só para os doentes que estão internados. Quando recebem alta, continuam o tratamento em clínicas privadas. Esta unidade é inovadora e vai ser a maior [que existe]", explicou Carlos Dias, responsável pelo polo de Valongo do S. João, acrescentando que haverá um corpo clínico permanentemente afeto ao serviço.
"Normalmente, a diálise é feita entre duas e três vezes por semana. Esperamos receber doentes de todo o lado", disse Carlos Dias.
Mais um bloco
Projetada para o futuro está ainda a construção do quarto bloco cirúrgico de ambulatório. O último, inaugurado há cerca de um mês, custou mais de um milhão de euros, entre obras e equipamentos, e permitiu dar resposta à crescente procura pelo Serviço de Oftalmologia. Consultas de doenças da retina e cirurgias de ambulatório passaram do S. João para Valongo. Ali, a especialidade conta com dois gabinetes para consulta, que diminuíram o tempo de espera pelo primeiro atendimento no que toca às doenças da retina. É um complemento à atividade desenvolvida no S. João.
Por semana, realizam-se 370 consultas de oftalmologia. Ao fim de semana, são operados 80 doentes. "As primeiras consultas tinham um atraso superior a um ano [no S. João]. A partir de janeiro, vamos tentar diversificar e fazer também segundas consultas de retina", revelou Vítor Rosas, médico oftalmologista.
"As pessoas acham que vêm para uma unidade secundária. Além de termos aqui a equipa que temos no Porto, estamos apetrechados com o melhor ", realçou Vítor Rosas.
Nos blocos operatórios de ambulatório, igualmente a funcionar há quase oito anos em Valongo, tratam-se doentes de mais dez especialidades, incluindo cirurgia geral, plástica, vascular, ortopedia, ginecologia, neurocirurgia, torácica e medicina dentária.
"Não podemos operar todos os doentes em ambulatório porque os riscos são demasiados. Ainda assim, sobra uma fatia que chega a 60% dos utentes do S. João", disse Rui Soares da Costa, diretor do Serviço de Cirurgia de ambulatório.
A primeira cirurgia é às 8.30 horas. Os pacientes entram e saem no mesmo dia. Fernando Joaquim, utente de ortopedia, foi operado a um pé. Há um ano, partiu um calcanhar e os parafusos que lhe foram colocados na altura causavam dores. A cirurgia demorou cerca de uma hora e a mulher aguardou na sala de espera. "Não faz diferença ser operado em Valongo ou no Porto. As condições são as mesmas", disse o doente, de 54 anos.
De acordo com o responsável pelo serviço, antes de cada operação "são avaliados os riscos", sendo o utente visto por um cirurgião, um anestesista e um enfermeiro. Em casos de emergência, há um protocolo que possibilita o transporte do paciente para o Porto em 20 minutos. "Isto permite diminuir as listas de espera e dar melhores condições aos doentes", referiu.
Discurso direto
"Temos um núcleo de enfermagem permanente e uma rotação diária do médico que vem do S. João para Valongo"
"O total das cirurgias feitas em ambulatório ronda os 60%. Estamos a evoluir de uma forma sedimentada. Não há regressões"
"Temos um apetrechamento muito bom que nos permite fazer o diagnóstico das doenças da retina em todos os sentidos"