Um impasse na gestão do Hospital de Valpaços por causa de uma guerra entre a proprietária (Misericórdia) e a empresa que o gere está pôr em risco a sobrevivência da unidade. Alguns médicos já ameçaram sair. Câmara está a mediar o conflito.
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As cirurgias oftalmológicas e ortopédicas no Hospital de Valpaços, as duas éreas de referência, podem estar em risco a muito curto prazo por falta de material. Os fornecedores estarão a recusar entregar material por falta de pagamento. "A empresa das lentes intra-oculares só assegurou o material deste fim-de-semana porque alguém deu a palavra que se iria pagar", disse, ao JN, um funcionário do Hospital. O director clínico, Afonso Videira, confirmou igualmente que alguns médicos já "ameaçaram" abandonbar a unidade. Na origem do bloqueio financeiro e adminsitrativo está um conflito aberto entre dois sócios da empresa que gere o hospital, a Lusipaços, que pertence a um grupo galego, e Misericórdia de Valpaços.
O acordo entre a Santa Casa e a Lusipaços não prevê qualquer interferência da instituição na gestão hospitalar. No entanto, a Misericórdia, proprietária do edifício, tem nas mãos um trunfo de gestão poderoso. É quem detém o acordo com o Ministério da Saúde que lhe permite receber doentes do Sistema Nacional de Saúde e, por isso, as verbas relativas ao pagamento das comparticipações do Estado são pagas à Santa Casa, que posteriormente está obrigada a transferi-las para a Lusipaços.
No entanto, a Santa Casa estará a bloquear as transferências, estrangulando financeiramente a gestão do hospital. Confrontado com a situação, o provedor da Misericórdia remeteu explicações para o advogado. O causídico, António Telmo Moreira, negou a existência de conflito com a Lusipaços. "A guerra é entre os sócios da Lusipaços. É uma guerra instestina. Nós estamos tão preocupados como qualquer pessoa", disse, remetendo mais esclarecimentos para uma conferência de imprensa, a marcar.
José Igacio Lopes, o sócio maioritário, em função de uma procuração do terceiro sócio, fala "em sede de poder" e acusa a instituição de "não estar a pensar nos utentes e nas famílias que dependem do hospital".
No entanto, além da questão das verbas, há outro factor que está a bloquear a gestão. Um sócio da Lusipaços que em 2001 cessou funções de gerente no Hospital, Dario Martinez, apareceu subitamente e interpôs uma providência cautelar (já aceite) para suspender a nomeação de um gerente, que recentemente tinha sido sugerido por algumas entidades da cidade, por "gozar de prestígio" e, desta forma, poder apaziguar os ânimos.
Em causa estava Gaspar Borges, antigo presidente da Junta de Valpaços. Dario Martinez, que comparece no hospital acompanhado de funcionários da Misericórdia, enfrenta vários processos executivos em Espanha. Em Julho passado, segundo a Guarda de Ourense, encontrava-se em paradeiro desconhecido.
"Eu não entendo como é que a Santa Casa apoia o sócio Dario Barros, que desde 2001 nunca mais apareceu por aqui, tem problemas com a justiça e o fisco, e não apoia Gaspar Borges, que é uma pessoa com prestígio na cidade e até é irmão da Misericórdia. Porquê?", questiona José Ignacio, garantindo que vai constestar a providência. Quem também não percebe a postura da Santa Casa é o director clínico, Afonso Videira, para quem o conflito pode levar ao encerramento do hospital.
