Uma mulher de 32 anos, grávida de oito meses, soube na passada terça-feira, numa consulta no Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, que a bebé estava morta e teria de remover o feto. Foi enviada para casa nesse e no dia seguinte por falta de vagas.
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Tânia Dias recebeu, na passada terça-feira, a pior notícia que uma mãe no final de gestação poderia receber. E, segundo o pai da criança, da “pior forma”. “Deram-lhe a notícia da maneira mais fria e cruel. Disseram-lhe: a sua filha tem qualquer coisa, está morta. Nem um psicólogo chamaram. O que fizeram foi completamente desumano”, critica Luís Dias, lamentando não ter sido prestado qualquer apoio psicológico.
O sofrimento desta família, um casal com três filhas, piorou quando, após a trágica notícia, o hospital enviou a mulher com o feto morto para casa. “Disseram-lhe que naquele dia não garantiam um quarto. Poderia ficar com outra mulher grávida ou recém-nascidos no mesmo quarto ou ir para casa e voltar no dia seguinte e se tivesse febre ou dores para ir à urgência”, conta surpreendido Luís Dias. "Questionei-me logo se ela não corria risco de vida e se não deveria haver um acompanhamento imediato. É muito triste", acrescenta.
Tânia foi para casa e regressou, no dia seguinte, para ser internada e remover o feto, mas, pela segunda vez, voltou para casa. “Chegou ao hospital e esteve meia hora à espera, até que a médica disse para vir hoje (quinta-feira) porque afinal não tinham vaga para ela e o medicamento para induzir o parto demorava 48 horas a fazer efeito. Nem viram se tinha febre nem verificaram a tensão, não prestaram nenhum auxílio. Perguntei se achava humano, uma mulher que tem a sua filha morta tê-la mais um dia na barriga”, relata Luís Dias.
A família diz ainda que a gravidez estaria a correr “muito bem” e que “nada fazia prever este desfecho”. “A Eva era uma bebé saudável, a médica nem queria acreditar no que aconteceu. Pôs a hipótese de ter sido uma trombose no cordão umbilical, tendo deixado de entrar sangue e oxigénio para o bebé, mas só com a autópsia se saberá”, lamenta, recordando aquele dia. “A bebé de manhã ainda se mexeu. À hora de almoço a minha mulher já não sentiu movimentos na barriga, mas não estranhou porque a menina mexia-se mais de manhã e à noite”.
Tânia Dias foi internada, esta quinta-feira, num quarto sozinha para remover o feto e já está a ter apoio psicológico, auxílio que Luís Dias acredita que chegou apenas por causa da pressão da comunicação social. “Nunca lhe sugeriram apoio psicológico. Só hoje lhe perguntaram se ia precisar e ela disse logo que sim”.
A família não consegue perceber porque Tânia Dias não foi transferida para outro hospital ou não optaram por outro tipo de intervenção como uma cesariana. “Se viram que a minha filha já estava morta numa terça porque não fizeram logo uma intervenção? Porque é que deixaram a minha mulher ir para casa e andar nesta roda vida? Ela está a sofrer, tem uma filha morta na barriga. Não conseguimos fazer o luto”, critica.
O Hospital Beatriz Ângelo confirma ao JN que “a utente em causa foi avaliada em consulta eletiva de obstetrícia no dia 24 de outubro, tendo sido diagnosticada a presença de feto morto in útero” e que, nesse dia, “efetuou terapêutica farmacológica, que deve ser complementada com intervenção nas 48 horas seguintes”.
A unidade hospitalar refere ainda que, “tal como previsto e agendado com a utente, a mesma compareceu esta quinta-feira no Hospital Beatriz Ângelo e os procedimentos clínicos indicados para esta situação estão a decorrer”.
Questionada sobre a falta de apoio psicológico prestado a esta família, o Hospital diz que a necessidade do mesmo ainda não teria sido identificada. “Fazendo parte do cuidado clínico integral a possibilidade de facultar apoio psicológico, caso essa necessidade seja identificada pelo médico assistente, o mesmo está disponível nesta unidade hospitalar”.