<p>Já não são apenas rumores, tudo indica que vai mesmo fechar a urgência médico-cirúrgica (UMC) do hospital de Mirandela. A proposta já foi entregue pelo serviço de cirurgia à Administração do Centro Hospitalar do Nordeste (CHN), que deverá dar o seu aval, em breve. </p>
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A UMC de Mirandela foi desactivada no início do Verão. Na altura, apontava-se para uma solução provisória, durante as férias do pessoal médico. No entanto, o encerramento deverá mesmo ser definitivo.
O director do serviço de Cirurgia do CHN justifica a decisão devido à "falta de condições" do serviço em Mirandela. António Ferrão vai mais longe e diz mesmo que seria um "acto criminoso" manter a cirurgia aberta nas condições em que estava, porque "dizer que é uma urgência médico-cirúrgica quando do ponto de vista legal não é, dá ideia falsa à população de uma segurança que não tem", explica.
"O que fizemos foi pegar nos poucos meios humanos que temos e transformar duas urgências más numa boa, transformando a outra naquilo que de facto é, um serviço de atendimento base. Mas porquê Bragança e não Mirandela? A mim tanto faz uma ou outra porque eu sou do Porto", acrescenta.
António Ferrão baseia esta decisão num parecer, de carácter vinculativo, da Ordem dos Médicos e numa análise dos últimos três meses de actividade. "Vieram 23 doentes transferidos para Bragança e nenhum correu qualquer risco na transferência, o que dá a média de 0,23 doentes por dia", afirma.
"Alguém pode entender que se mantenha uma urgência aberta, a pagar horas extraordinárias a médicos, anestesistas, enfermeiros, auxiliares, para funcionar uma máquina pesadíssima com estes números", questiona.
Para além disso, recorda uma reunião com todos os médicos em que o assunto foi votado. Nessa altura a decisão teve o apoio de mais de dois terços dos médicos, incluindo três dos seis cirurgiões que prestam serviço em Mirandela.
Nesta altura, o Tribunal Administrativo de Mirandela aprecia ainda uma providência cautelar interposta pelo presidente daquele município que está contra o encerramento das urgências e denuncia o alegado incumprimento de um protocolo assinado entre a câmara e a ARS Norte.
Sobre este assunto, António Ferrão não quer comentar, "porque o senhor presidente não percebe nada de medicina", afirma.
O presidente da câmara de Mirandela confessa estar chocado com as declarações do director do serviço de cirurgia do CHN. "Conseguiu insultar os mirandelenses demonstrando que é um péssimo homem e um anti-transmontano primário", diz José Silvano que pede a demissão de Ferrão porque "não conhece a realidade da região e ainda por cima insulta quem lhe paga um salário a peso de ouro", sustenta o edil.
O autarca considera ainda que o director devia ser alvo de um processo disciplinar interno porque "está a contrariar uma decisão do antigo Ministro da Saúde, Correia de Campos, que classificou a urgência de Mirandela como médico-cirúrgica", acrescenta.
José Silvano exige que a administração do CHN venha a público desmentir esta decisão. "A paciência esgotou-se e se não houver um desmentido vamos todos para a rua protestar", ameaça o autarca.
Ainda não foi possível saber qual a posição da administração sobre esta matéria.